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sexta-feira, 13 de maio de 2011

O Casulo

A alma se esconde num casulo. Um paraíso pacifico quase completamente impenetrável, onde cada parte de nosso ser se encontra. Os trechos de nossas histórias se erguem em paredes infinitas, como num gigante corredor de biblioteca que nunca termina. Impossível de ser completamente lido, completamente descoberto. Cada experiência que passamos entra para este corredor. Cada lágrima que escapa dos olhos e cada gargalhada que os lábios deixam soltar. Nele se encontram as descobertas, as decepções, as maiores felicidades e também as maiores tristezas. Ali também se escondem cada um de nossos pensamentos e desejos. Desde os mais superficiais até os mais secretos, aqueles que temos medo de repetir até para nós mesmos. O casulo é quente e aconchegante, sua luz é própria e não incomoda os olhos. É perfeito para cada um de nós e quase não aceita estranhos, lugar onde podemos nos esconder de todo o mundo quando mais precisamos. Lugar de solidão agradável, onde nossa alma se sente mais em casa, onde nos sentimos melhor. Nosso esconderijo secreto. Este esconderijo, pela alma ser tão difícil de ser tocada, não sofre com as mudanças exteriores. Nem com as pequenas alterações e nem com os grandes terremotos; há apenas paz lá dentro – e a essência do que somos. Nossos amigos e nossa família não chegam a ultrapassar suas barreiras de proteção, ficam protegidos num pequeno, especial, inesquecível e também aconchegante espaço. Essa medida de segurança do próprio casulo talvez indique o quão perigoso é abalar toda a paz e quietude interior que guardam a alma.

Um dia, alguém surge. Alguém passa desapercebido e se atira para a parte mais intima de você. Às vezes este alguém se atira por inteiro, às vezes atira apenas uma fagulha de si, um fio de cabelo que seja. Seja como for, você não está mais sozinho e alguém caminha pelo corredor daquela sua infinita biblioteca. Alguém se deita no seu casulo e aprecia sua luz própria enquanto ouve seus pensamentos e desejos mais íntimos.

Neste dia, sua alma é alcançada e seu mundo nunca mais será o mesmo.

domingo, 24 de abril de 2011

December Days

(...) A neve ainda caía lá fora e embora o aquecedor do quarto estivesse desligado, nenhum lugar do mundo poderia parecer mais quente ou aconchegante do que aquele cômodo. Mesmo quando aqueles incontáveis segundos terminaram, os músculos de Sophia relaxaram e a baixinha repousou as mãos sobre o pescoço da morena; os olhares continuaram perdidos um no outro da maneira mais intensa que já tinha acontecido desde o primeiro encontro. Talvez tenham permanecido daquela maneira por apenas um instante estendido por uma eternidade silenciosa e cúmplice, talvez o tempo realmente tenha se arrastado enquanto estiveram perdidas numa realidade paralela, mas nenhuma das duas nunca saberia explicar aquele momento. Nichole usou um dos cotovelos para se apoiar na cama e voltou a deitar completamente sobre a francesa, sentindo-a estremecer e se sentindo arrepiar com o contato quente entre as peles nuas. Deixou seus lábios roçarem aos dela, sentiu os dedos da menor deslizarem pela curva de seu queixo e o contato se tornar um beijo de verdade; calmo, longo e infinitamente carinhoso.

rascunho de algum capitulo de Under The Stars


ps: por algum motivo, essa cena me lembrou Innocence inteira. Os que conhecem a história entenderão rs
ps2: como é lawrich, é provavel que eu apague em três, dois...

sábado, 9 de abril de 2011

A menina e a flor

O céu amanheceu cinza hoje. O centro da cidade parece um lugar fantasma, ninguém caminha pelas ruas irregulares de paralelepípedo e as fachadas dos casarões antigos transformados em vendas e bares estão fechadas. Há uma sensação de solidão pairando no ar. Sento-me num banquinho de madeira na praça principal, instalado sob um carvalho gigante cujas raízes racham parte das calçadas. Seus galhos se contorcem em dezenas de direções sobre a minha cabeça enquanto as folhas produzem um farfalhar continuo ao serem castigadas pelo vento. Cruzo as pernas. Puxo a jaqueta para mais perto do corpo para me proteger do frio e olho para a construção que se ergue à minha frente: Não é imponente ou poderosa como os prédios atuais feitos com milhares de janelas de vidro, mas tem uma beleza singular. As paredes são simétricas, as portas gigantes de madeira possuem detalhes entalhados à mão e a pintura está um pouco gasta. Por dentro, a igreja matriz da cidade é ainda mais bonita e cheia de detalhes. Suspiro. Há uma sensação de nostalgia pairando no ar. Não sei se gosto ou não de toda esta sensação, todos estes pensamentos. Há certa paz e certa inquietude crescendo em mim ao mesmo tempo.

Do outro lado da praça, vejo uma garotinha caminhando. O cabelo castanho e liso está solto, há apenas um arco mantendo sua franja longe do rosto. Ela usa apenas um vestidinho azul bebê e uma rasteirinha branca, mas não parece sentir frio. Não deve ter mais de cinco anos, será que está perdida? Ergo as sobrancelhas ao vê-la se aproximando de mim. Há algo de familiar em seus traços, como se eu já a conhecesse, mas não consigo me lembrar de onde. Ou de quando. Quando ela chega perto o suficiente, percebo que carrega algo numa das mãos. Uma pequena flor.

– Oi? – Hesito ao perguntar.

– Oi. – Ela sorri de maneira doce. – Trouxe para você.

– Hm... Obrigada.

– É para que você não esqueça que nunca está sozinha.

Minha surpresa faz seu sorriso aumentar. Abaixo o olhar para examinar a flor que agora está em minhas mãos por apenas alguns segundos e, ao reerguê-lo, não a encontro mais em lugar nenhum que meus olhos possam alcançar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

A maravilha do livre arbítrio

Primeiro a vodka. Ou a tequila, quando o dinheiro permite. Não se importa com o rótulo, nem com a cor, nem com o cheiro, nem com o gosto. Apenas com a ardência no peito e depois a sensação. Uma, duas, três... A conta nunca passa da quinta dose, o consumo varia dependendo da noite. Sempre mais do que meia garrafa. Depois do álcool, os beijos. As mãos, os abraços, a pele. O calor, tanto calor, tanto desejo. Tanto vazio. Em seguida, o quarto mais próximo. Ou uma cozinha, uma sala, um banheiro, um hall, um estacionamento, um carro, um canto na balada. Não se importa com o lugar, nem com o nome, nem com o rosto. Apenas com a luxuria, o sangue correndo depressa, o coração batendo como louco, a respiração descontrolada, os gemidos. Por fim, o êxtase. E então as memórias somem por completo.

Acorda sem fazer noção de tempo ou espaço. Sente alivio ao reconhecer a própria cama, mas não sabe como chegou lá. O relógio marca três horas da tarde e demora três segundos para se lembrar de que é domingo. E, exceto por uma presença solitária, a cama está vazia. Flashes da noite anterior retornam e a ressaca moral atinge o estômago com socos que fazem o álcool voltar aos lábios, amargo. Corre para o banheiro e, colocando para fora toda a bebida, também coloca as lágrimas. Porque a cama está vazia. Porque o corpo desconhecido e sem nome não tinha os lábios tão gentis, nem a pele tão macia, nem o toque tão certo, nem o beijo tão doce. O vazio disfarçado na noite anterior grita pela manhã. Volta até a cozinha e engole comprimidos para a dor de cabeça enquanto prepara um café forte. Sem açúcar.

O domingo é passado em frente à televisão. A segunda-feira lembra que há um trabalho para freqüentar. A terça-feira traz uma dor de cabeça insuportável. A quarta-feira aparece com insônia e nem abraçar os travesseiros imaginando aquele perfume doce ajuda. A quinta-feira vem para sair com os colegas após o trabalho, beber num bar qualquer e terminar no apartamento solitário. Enfim, a sexta-feira! Em visita ao terapeuta, faz a mesma pergunta de sempre: Por que?

(Por que fui trair àquela pessoa a quem amava? Por que não dei valor àquela pessoa que me amava; e a quem eu amava? Por que desisti? Por que parei de tentar? Por que nem tentei? Por que não tenho uma chance no amor? Por que não tenho uma chance profissionalmente? Por que as pessoas me fazem sofrer? Por que nada pode dar certo para mim? Por que minha vida é tão miserável? Por que não sou feliz?)

E apenas uma resposta me passa pela cabeça: Porque você quer, meu amor.

ps; Aprendi fazendo uma interpretação sobre um livro uma coisa que sempre quis usar: Sem nome (e no caso também sem sexo), qualquer pessoa pode ser ou se identificar com o personagem. Logo, não me culpem caso isso aconteça, fiz pensando em ninguém.

ps²: faz tempo que eu não apareço aqui, né? um beijo no coração (q) de quem comentar rrumar

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Peace.

(...) Sentir sua respiração morna e o calor que o corpo emanava junto ao perfume leve ainda era indescritivelmente tentador, mas não havia mais culpa ou medo pelo que estava sentindo. Parecia apenas certo. Como se, depois de muito tempo, tivesse reencontrado sua paz.
under the star 3.0, chapter 15

ps: só porque o primeiro post da página fica melhor sendo lawrich do que yulen.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

The Best Feeling

I wouldn't change a thing about it.

– Eu te amo.

Sua voz fraca soou num sussurro ao pé do ouvido, enquanto um sorriso marcava seus lábios e sua respiração irregular arrepiava a nuca dela. Sophia não conseguiu responder. Não por não sentir o mesmo – acredite em mim, ela sentia todas aquelas sensações confusas, intensas e tão agradáveis que se escondiam atrás daquelas três palavras – ou por não acreditar. O grande problema foi o nó apertando sua garganta, impedindo a voz de sair. Tinha aguardado, com toda a sua paciência forjada, por meses para ouvir aquilo outra vez, depois de tudo. Pegou-se surpresa e feliz – oh dieu, como estava feliz! – ao ouvir aquela declaração num momento inesperado. Por perceber que aquilo nunca antes havia soado tão sincero e verdadeiro.


ps: mini atualização com gostinho de Sophia Lawrey :3

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Another Dream

Dia vinte e quatro de um ano qualquer. Acordo e me deparo com os flocos de neve caindo do lado de fora da janela. É véspera de natal. Sonolenta e preguiçosa, desço as escadas e encontro todos tomando café da manhã. O rapazinho, elétrico, corre para me abraçar. A menina, presa numa cadeira de bebês, bate a colher de plástico em sua mesinha e estende a mão livre em minha direção. ‘Mamãe!’, ela repete. Eu sorrio. Afago a cabeça do menino, desorganizando seus pequenos cachos escuros, dou um beijo na bochecha gigante da garotinha na cadeira e me aproximo dela para beijá-la de leve nos lábios. Tomamos café da manhã juntos e depois decidimos vestir algo mais quente: As crianças ficam parecendo pequenos presentes embrulhados em tantas roupas, o que nos fez rir por algum tempo.

Então descemos para o jardim coberto de neve e aí é apenas festa. O rapazinho corre, cai e levanta novamente. Brinca de fazer anjos no chão, joga bolas de neve contra mim e eu revido só de brincadeira. Ele está feliz. A menina, pequena demais, fica segura no meu colo – ou no seu. Sentamos-na no chão e ela fala sem parar coisas incompreensíveis – está entrando nessa fase que nos diverte – e ri ao sentir aquela coisinha branca e gelada em suas mãos. Ela está feliz. Ela me abraça pelas costas e me aconchego em seus braços, em seu colo. Fecho os olhos por um momento e sorrio. Eu estou feliz e posso jurar que ela também está.

Passamos o resto da manhã brincando pelo jardim, enchendo-nos de neve e rindo das coisas mais simples. Perto do horário do almoço, entramos e comemos alguma coisa já pronta. O rapazinho corre para passar o restante do tempo em seu novo videogame, a menininha dorme depois da manhã cansativa. Eu e você temos uma tarde de preparativos para a noite. Arrumações, inicio do jantar. Pequenos estresses dos quais não podemos fugir, discussões sem importância das quais nos esqueceremos mais tarde. Tudo isso só nos lembra o quanto nossa vida não é perfeita e o quanto, exatamente por isso, ela se torna perfeita. Não quero que faça sentido – nós nunca fizemos; e mesmo assim ainda estamos aqui.

Mais tarde, nossos amigos chegam. As crianças já estão arrumadas para a ocasião, nós (mesmo sem acreditar que demos conta de tudo) também. Nossos amigos e família chegam. Um grupo não tão grande; apenas os mais especiais e seus respectivos pares. Todos babam nos nossos pequenos e nós apenas sorrimos; orgulhosas. O jantar é longo. Cheio de conversas, risadas e lembranças dos velhos tempos. Quando eles partem, as crianças já dormiram há tempos. Levamos-nas para suas camas, damos um jeito rápido na cozinha e deixamos a louça para lavar. Não queremos pensar nisso no momento. Então, descemos os presentes que estavam escondidos no armário e colocamos em volta da árvore de natal.

Por fim, tomamos banho e então o dia finalmente está (quase) acabado. Ela deita nos meus braços, procura meu colo para descansar o rosto e ri quando, apesar do cansaço, eu a provoco. Somos apenas nós duas novamente e nada parece ser capaz de estragar os nossos momentos de intensidade e cumplicidade. Eu sei que a amo como sempre amei, talvez mais e talvez de uma maneira melhor, depois de tanto aprendermos juntas sobre toda essa coisa louca de relacionamentos e amor. Eu sei que fiz a escolha certa desde o inicio e nada poderia estar melhor.

Na manhã seguinte, somos acordadas por um rapazinho agitado. Ele carrega a garotinha até a nossa cama e ela engatinha até estar diante de nossos rostos. Tenta nos acordar com palavras incompreensíveis enquanto ele cutuca nossos braços de maneira mais ávida e repete alegre: O papai Noel deixou os presentes na árvore!

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Parece que eu já sei o que pedirei para o papai Noel neste natal.


ps: feliz natal, gente :D

sábado, 11 de dezembro de 2010

lights: on. fear: off #theend

– Abra os olhos.

Não fazia sentido. Aquela voz – sua voz – não deveria estar ali. Eu me recusei a abrir os olhos, tive medo que fosse apenas um sonho. Uma alucinação. Talvez eu estivesse bêbada demais. Minha mente leve e a garrafa de vodka vazia no chão me diziam algo sobre isso. Deixei que seu tom de voz suave, embora autoritário, envolvesse-me como sempre. E sorri.

– Abra os olhos. – Você repetiu. – Não queria lutar contra os seus medos?

– Não este. – Murmurei.

– Tudo bem então, mantenha-os fechados.

Senti sua mão envolver a minha com um arrepio agradável que percorreu todo o meu corpo. Só podia ser você. Real. Somente você poderia adivinhar os meus medos, aquele meu simples medo de abrir os olhos e você não estar ali. Mas como? Não fazia sentido. Você deveria estar morta. Deixei-me ser puxada, meus pés descalços tropeçando no nada vez ou outra. Eu não me importei. Sempre confiei você. Quando chegamos em outro cômodo, senti o piso gelado e imaginei estarmos no banheiro.

Meu coração estava batendo forte, rápido. Quando fora a última vez que eu o havia sentido realmente, sem precisar do medo ou da dor das pessoas que eu mais amei? Eu mal podia me lembrar. Mal podia lembrar da sensação de realmente estar viva, de realmente sentir algo. Talvez eu simplesmente seja um erro – e você a minha ligação com o mundo real. Senti a parede em minhas costas e seu corpo em minha frente. Prendi a respiração. Eu podia imaginar você sorrindo. Sua respiração em meu pescoço me arrepiou por completo, senti suas mãos apertarem de leve minha cintura e subirem pela barriga. Mordi o lábio. Suas mãos levaram consigo a minha blusa, até tirá-la por completo. O que diabos você estava fazendo?

Não tive coragem de perguntar. Joguei a cabeça para trás e me permitir suspirar, sentindo seus lábios descendo do pescoço para o colo. Você sempre teve o dom de me enlouquecer. Suas mãos desabotoaram minha calça sem dificuldade, puxando-a para baixo até tirá-la por completo. As pontas dos seus dedos roçando minhas coxas me fizeram perder a sanidade que eu não sabia se tinha. Seu nariz roçou no meu quando você se reergueu, nossas respirações se envolvendo devagar. Sem permitir que eu a beijasse, sua mão buscou a minha e me entregou um objeto gelado. Meu punhal.

– Você sabe o que fazer.

– Eu não...

Por favor, amor.

Estremeci. Por que eu não conseguia resistir a você? Enquanto os dedos de sua mão livre voltavam a acariciar minha cintura com carinho, levei o punhal até minha própria coxa para o que seria o último dos meus cortes. A ardência me fez gemer baixo e largar o objeto no chão, sentindo o sangue escorrer. Seus dentes apertaram meu colo; mordendo-me. Eu estremeci outra vez.

– Abra os olhos. – Murmurou, afastando-se de mim. – Abra.

Eu obedeci e meu coração bateu forte. O horror impediu que o grito escapasse de minha garganta, retraí o corpo contra a parede quase sem consciência. Estava escuro, mas não completamente. A luz vermelha escura iluminava parcialmente as máscaras e rostos de cera deformados presos às paredes, assim como as incontáveis máscaras de palhaços. Todos eles me encaravam, agourentos. Provocantes. Mórbidos. E de repente eu estava tremendo, assustada. Aquele era o gosto do medo, desta vez o meu próprio.

– Lute contra seus medos. – Você murmurou. – Não era este o objetivo?

É claro que você sabia. Conhecendo-me melhor do que ninguém, talvez até mesmo melhor do que eu mesma. Depois de ter lhe perdido pela primeira vez, eu percebi que não podia passar por aquilo novamente. O maior dos meus medos: Perder as pessoas a quem amo. Eu percebi que precisava lutar contra isso. Foi por isso que matei você e todos eles.

– O que eu devo fazer? – Perguntei, incerta.

– Entre na banheira.

– Você vai ficar comigo?

– Sempre.

Tentei não olhar para as paredes. Tentei ignorar a sensação de que havia algo me observando do escuro – algo além daquelas expressões contorcidas saídas dos meus pesadelos. Percebi, mas não prestei realmente atenção em alguns aparelhos sobre a pia, e entrei devagar na água. Estava gelada e senti algo gelado e pegajoso grudar em minha perna.

– O QUE DIABOS...

– Continue...

Sapos? Engoli o nojo que me dominou, sentindo o pequeno animalzinho se mover devagar em minha pele, mas minhas pernas haviam travado. Eu não podia continuar. Eu não conseguiria fazer aquilo. Então senti suas mãos em meus ombros nus, empurrando gentilmente naquela direção e simplesmente obedeci. Outra vez. Deitei-me completamente, a cabeça apoiada para o lado de fora e a água gelada me encobrindo até o pescoço. Minha expressão era de nojo, eu sabia disso. Ainda podia sentir as patas geladas e escorregadias se movendo pela minha pele. Sentando-se na beirada de mármore da banheira, você se abaixou em minha direção. Seus lábios tocaram os meus demoradamente e, por um instante, eu esqueci de todo o resto do mundo.

– Foi você quem escolheu.

Murmurou com os lábios ainda próximos dos meus e, ao se afastar, apertou um dos botões do aparelho sobre a pia. A corrente elétrica fez meu corpo contrair num espasmo violento e eu gritei. Quando a sensação passou, meu corpo ainda formigava. Meus olhos lacrimejavam. Eu quis levantar, mas não sentia força alguma. Busquei seus olhos e você sorria. Parecida demais comigo.

– Você acha que valeu a pena? – Perguntou. Havia raiva em sua voz. – De verdade?

– Eu precisava. – Murmurei.

– Precisava me matar? Matar seus amigos? Todas as pessoas que te amavam?

– Que eu amava.

– Faz parecer ainda pior.

Você apertou o botão novamente e eu gritei outra vez. Demorou mais. Talvez uma eternidade em alguns segundos. Meu coração poderia parar a qualquer momento. Minha respiração. Minha vida. Eu não soube por quanto tempo gritei. Não soube se minha voz continuou saindo ou se perdeu em algum lugar. Eu não podia ver, sentir ou ouvir nada além da dor. Quando acabou, eu tinha apenas metade de minha consciência. Vi seu rosto fora de foco diante de meus olhos – o rosto que eu tinha amado, se eu pudesse ser capaz disso. Eu tinha minhas dúvidas. Seus lábios tocaram minha testa uma última vez e suas mãos apertaram meus ombros, empurrando-me para baixo devagar.

– Por que você está fazendo isso? – Perguntei.

– Você sabe que eu não estou fazendo nada. – Você respondeu, fazendo-me mergulhar completamente na água. – Foi você quem escolheu. É você quem está fazendo isso. Você sabe que eu não estou aqui, amor. Você me matou.

Eu ia morrer. Não me importei com isso. Apenas fechei os olhos, sentindo meu pulmão arder em busca de ar enquanto suas mãos me prendiam firmemente no fundo da banheira. Eu sabia que você não estava ali. Você era apenas minha imaginação. Minha.

Mas não se deixe enganar. Esta não foi uma história sobre amor – foi uma história sobre medos.

Os seus e os meus medos.


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ps: caso alguém não tenha reparado, inverti o tiulo. Lights on porque não estava tudo escuro, Fear off porque ela morreu rs

ps¹: caso alguém não tenha entendido, a menina no texto não existe, está morta. Foi uma das vitimas anteriores... A assassina se matou, mas imaginou que a menine que ela amava é quem estava fazendo tudo aquilo.

ps²: acabou tudo :/ desculpem por não ter matado alguns de vocês, mas eu tinha que aproveitar a inspiração pra fazer o final... Espero que tenham gostado :P

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

The Melody

So brown eyes, I'll hold you near, 'cause you're the only song I want to hear

A melody softly soaring through my atmosphere.

Se eu pudesse, compararia com uma melodia no piano. Sem grandes explicações filosóficas, só porque eu gosto. Uma melodia para se ouvir de olhos fechados, luzes baixas e no silêncio de nossas respirações desritmadas, que me leva para um outro mundo. Um mundo apenas meu, compartilhado com você e todo o seu falatório. E todas as suas risadas. E todo o nosso amor. Seria uma melodia única. Calma, porém intensa. Que envolve, emociona e domina quem ouve. Cheia de altos e baixos para que nossos corpos dancem em ritmos calmos, rápidos e calmos novamente. Mas sempre juntos. Os pés descalços, as pernas entrelaçadas. As almas quase se tornando uma só. Uma melodia que faz o coração bater acelerado, que faz a mente girar num vazio inexplicável, que desafia as leis da física e torna a ciência inexplicável. Que, ao final, traz a tranqüilidade não explicada. A calma e a plenitude. Se eu pudesse, compararia com a melodia de uma canção sem nome. Ela seria a minha preferida. Não uma canção de amor, não uma canção dramática ou alegre. Sem nenhum clichê, sem nenhum rótulo. Só a nossa canção. Inexplicável e sem nome.


ps: música: Where Soul Meets Body

ps²: Meio aleatorio, mas só pra postar algo... Não apagarei pro @johnbubbles não me matar rs

domingo, 21 de novembro de 2010

lights: off. fear: on #5

Seus olhos se abriram e encontraram nada além da escuridão a envolvendo, no mesmo momento em que o cheiro fez seus pulmões arderem em horror. Tentou se mover, mas percebeu suas mãos e pés marrados à superfície mole em que você estava deitada. Durante segundos que lhe pareceram horas, não houve nada além do escuro e daquele cheiro de fezes e carne em decomposição. Sob você. Sujando sua pele, seu cabelo, talvez até sua alma. Seu estômago revirou, rejeitando àquela idéia terrível, mas você não pôde fazer nada além de tentar respirar com calma e pouco sentir. Nada além de tentar manter o controle. Tão típicos seu. Tão inútil.

– Você demorou para acordar. – Eu falei. – Estava ficando entediada.

Você estremeceu de susto ao perceber que não estava sozinha. Levantei-me, deixando o copo de suco na mesinha ao meu lado, e acendi a lanterna que tinha numa das mãos. A luz machucou seus olhos e eu a direcionei para a pequena caixa de madeira em que você estava presa. Iluminei a areia em que você estava deitada. Areia com fezes e o cheiro inconfundível e forte da urina de gatos. Os seus gatos. Duros, com os pelos dos corpos em decomposição roçando sua pele seminua. Ao perceber isso, seu corpo estremeceu num espasmo involuntário. Eu sorri, abaixando-me ao seu lado.

– Eu, se fosse você, tentaria não vomitar agora. Não terei o trabalho de limpar e isso vai ficar mais nojento do que já está. E não me culpe por isso, se você não fosse tão certinha, enjoada e organizada... Talvez o seu fim fosse mais digno. Mas eu acho que ele condiz com você.

Pisquei um dos olhos, divertida, levantando-me. Tão arrogante, tão cheia de si. Sempre acreditando ser superior aos outros. Sempre achando qualquer um indigno de sua atenção, amor ou perdão. No fim, você retornava exatamente ao que era: Nada.

– Quero fazer uma brincadeira com você. Roleta-russa, sabe?

É claro que sabia. Seus olhos se arregalaram, o horror exalando das íris escuras tanto quanto sua pele. Chegando até mim de modo puro e cru. Envolvendo a sala de medo, o seu medo. Meu relaxante natural. Retirei apenas uma bala e o revolver do bolso, colocando-a no tambor e o fechando. Em seguida, afastei-me um pouco e bebi mais um gole de suco de morango antes de pegar uma caixa encostada ao lado de minha cadeira.

– Já que você está impossibilitada de se mover, nossa brincadeira será um pouco diferente do que o normal. Nenhuma de nós sabe em qual posição está a bala e eu irei mirar em seis partes, vitais ou não, de seu corpo. – Fiz uma pequena pausa. – Acaba quando a bala for descoberta. Preciso avisar que doerá, sim, mas pode ou não ser um tiro fatal. Tudo depende da sua sorte.

Abri a caixa sobre você e algo – vários algo – atingiu seu corpo sem força alguma. Pequenos animais de patas ágeis, os rabos roçando sua pele enquanto subiam e desciam. Outros pareciam menores. Cheiravam-na, abrigando-se debaixo de seus braços, entre suas pernas, em seu cabelo curto. Quando você percebeu do que se tratavam – ratos e baratas de diversos tamanhos – o grito de horror finalmente escapou. Histérico. Descontrolado.

Eu não pude fazer nada além de sorrir, extasiada.

– Eu poderia tentar te dar alguma lição de moral. Falar o quão odiosa você consegue ser, quando quer. Falar sobre como você só acha que pode magoar qualquer um sem ser magoada. Sobre como você não é uma daquelas patricinhas das séries que gosta de assistir. Mas não ajudaria muito.

Distraída, mirei em uma de suas coxas. O horror a consumia, fazendo seu ar faltar, misturando-se ao odor que a envolvia. A lanterna continuava ligada, formando um pequeno espaço iluminado entre nós duas e seus novos amigos.

– Você só precisa me dizer quando quer que eu atire, ok? Se a bala não estiver lá, tudo bem. Tentaremos de novo e de novo. Mas não precisa ter pressa.

Saber que precisaria pedir para que eu atirasse fez seu medo crescer. Eu podia senti-lo, quase tocá-lo. Dançar com ele, comemorar e rir enquanto ele se tornava uma companhia agradável para mim e atormentadora para você.

– Até se sentir pronta... Apenas diga-me: Quais são os seus medos?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

tons castanhos

Talvez os outros os vissem marrons. Simples, chatos. Iguais demais, comuns demais. Para ela, não eram apenas castanhos. Eram uma imensidão de tons que a prendiam com garras de aço. Que ela tinha aprendido a ler – ou eram eles que gritavam verdades por trás de palavras não ditas? Os tons gostavam de brincar, ir e vir, gritar no silêncio do olhar. Ela tinha o seu preferido: Aquele que a fazia lembrar de chocolate liquido. Era um tom quente, que a abraçava e envolvia. Vinha acompanhado de um brilho de alegria. Talvez felicidade ou paz. Inocência. Aparecia nos melhores momentos e transbordava, pingava, preenchia tudo o que pudesse alcançar. Era doce, também. Doce e dócil. Gentil. Daí – já que ela tinha aquele como preferido – vinham todas as outras variações: O mais áspero e gelado tom era o mais escuro: Quase completamente negro. Ela o odiava, ou o mais próximo que conseguia chegar disso. Tinha braços invisíveis capazes de agarrá-la pelo pescoço e sufocá-la. Aparecia nos piores momentos. Trazia consigo uma onda de frio, de descontentamento, de agonia. Às vezes de tristeza e de dor não faladas, mas gritadas em mais um silêncio enganoso. Aquele tom não pertencia àqueles olhos. Depois vinha aquele castanho ainda escuro que prendia. Desejava. Era mais um tom quente: Queimava. Incendiava. Por dentro, por fora, em silêncio, acompanhado de sussurros. E sentidos. E luxúria. E desejo, de novo. E de novo. Incansável. Outro dos preferidos. E quando a euforia do desejo se afastava, as cores retornavam àquele chocolate liquido do qual tanto gostava. Em seguida, ainda mais claros, os olhos ganhavam um tom de mel. Ainda doce, apetitoso. Geralmente acompanhado de sorrisos ou risadas. Era leve e macio. Infantil, divertido, maroto, manhoso. Uma criança. Combinava com aqueles olhos. Olhos de mudanças singelas que conversavam, riam, cantavam e brigavam com ela. Olhos que abriam uma porta para a alma, que não conseguiam esconder a verdade, que ela lia com uma clareza óbvia. Que pediam. Que tornavam a partida ainda mais difícil. Olhos que amavam. E ela se perdia e se encontrava e se abrigava e se prendia naqueles incontáveis tons castanhos.

ps: finalzinho foi uma brincadeirinha com algo da versão 3.0 de UTS, quem já leu entenderá. Um post inteiro sobre olhos. Uau! Alguém já enconrou um olhar assim? :B

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

things are looking up, finally!

Meio que uma continuação de outro texto, leia-o primeiro aqui para melhor compreensão.

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– E se ainda importar?

– Foi sua escolha.

– Estou me desfazendo dela.

– Mas não importa.

Uma atriz impecável, é isso o que eu sou. Minha voz cortante e convicta a atingiu como ela tinha me atingido milhares de vezes antes, magoando. Eu não tinha chorado na frente de ninguém. Eu não tinha deixado ninguém perceber o que eu realmente sentia. Eu era mesmo uma atriz perfeita – e não me orgulhava disso. Eu não queria interpretar. Mas ela não desviou o olhar como eu esperava. Não desistiu. Ela retorceu os lábios naquele maldito meio sorriso e seu verde capturou o meu azul. Então eu percebi – tarde demais – que havia uma única falha. Ela podia ler meus olhos com uma facilidade imensa. Inclusive a verdade por trás deles.

– Deixe-me tentar apenas uma coisa.

– Eu não quero.

– Você não pode confiar em mim por dois minutos?

– Posso. Esse é o problema. Eu não quero.

– Apenas feche os olhos.

Eu não queria. Não queria porque eu confiaria novamente e tudo acabaria mal novamente. Nós éramos erradas uma para outra, estávamos fadadas a magoar uma à outra. Quantas vezes continuaríamos tentando depois das brigas e das lágrimas? Eu não queria. Mas eu também não sabia dizer não para ela. Fechei meus olhos e observei o silêncio. Nada aconteceu, a principio. Depois de alguns segundos, eu senti o calor. O calor e o perfume. Trinquei os dentes. Senti os braços envolvendo meu corpo e quis dar um passo para trás, mas meu corpo não me obedeceu. As mãos dela se cruzaram na base da minha cintura, o calor doce me abraçou junto dela. Eu não soube mais ao certo o que eu queria ou não queria. Senti a mão dela repousar atrás de minha cabeça, em meu cabelo, e depois a pressão leve de seus dedos me empurrando ao encontro dela. Fez-me deitar a bochecha em seu ombro, tocando o nariz em seu pescoço – a única altura que eu alcançava – e depois acariciou de leve meu cabelo. Com carinho. O perfume me inebriou mais e meu medo de confiar se dissipou aos poucos. Eu ainda me sentia protegida naquele abraço. Ela ainda me acalmava. Ainda era a minha inglesa arrogante e irritante. Ainda era a minha Goodrich. Good and rich. Deixei-me suspirar longamente e permiti que meus braços a envolvessem, apertando-a com força. Urgência. Eu não queria correr o risco de que ela desaparecesse em breve. E então me deixei cair. A atriz perfeita ruiu e eu era apenas a Sophy. A pequena francesa que sentia falta de estar naquele abraço. Ela encostou o queixo no topo da minha cabeça e foi paciente enquanto eu chorava e soluçava, apertando-a tão forte que deveria quase machucar. Apenas continuou a acariciar meu cabelo com calma, até que eu finalmente me acalmasse.

– Desculpe por mentir.

– Eu não acreditei, nem por um segundo.

– Nem eu.

ps: lawrich. o primeiro foi em primeira pessoa também, mas narrado pela Nichole. Esse é narrado pela Sophia. Surgiu DO NADA na minha mente quando eu já tinha ido deitar e não me deixou dormir ¬¬ Então resolvi não desperdiçar o momento né? Comentem, please?

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Addicted to you

ps: Cortei metade do texto pra ficar postavel, mas ainda assim... Pra não dizer que eu não avisei: Não prossiga a leitura caso se sinta incomodado(a) com o tema (duas meninas juntas hihi)

Meu vicio em tempo integral.

Suas mãos percorrem e (re)descobrem meu corpo com toda a calma de quem sabe exatamente o que está fazendo. Meus lábios descem por seu pescoço, imitando sua calma inexistente, e suas mãos perdem o rumo tão confiante de antes. Seu perfume é incrível.

O aroma da sua pele, o gosto dela. Tudo me inebria, me envolve, e só existe você no meu mundo. Você perde o controle quando meus dentes se fecham com cuidado na sua pele, e minhas mãos brincam com seu piercing.

Seus braços envolvem meus ombros, puxando-me ainda mais para você num abraço inesquecível, e a única coisa que eu posso fazer é encostar a cabeça em seu ombro e suspirar. I love you. Sua voz não é mais do que um sussurro, apertando-me mais contra você como se ainda tivesse medo de me perder. Você não vai me perder, amor.

Je t’aime aussi. Minha voz imita você, outra vez. Francês. Eu sei que você enlouquece com isso. Sua pele arrepia quando eu sussurro no seu ouvido, o sotaque faz você estremecer. Ou meus lábios tocando o lóbulo de sua orelha.

Nossos rostos se afastam um pouco, apenas o necessário. O sorriso – malicioso – no canto dos seus lábios me faz sorrir também. O mais simples dos gestos me faz desejá-los. Desejar você. Você sabe disso, e se diverte com isso. Brinca com o piercing e morde o lábio inferior como se estivesse distraída. E meu coração acelera. Meu corpo pede por você.

Mas você continua com essa calma tirada sabe-se lá de onde. Solta o abraço, mas ergue as mãos e as apóia entre meu pescoço e bochechas. Seus polegares afagam de leve meu rosto, com carinho, e antes que eu feche os olhos, nossos olhos se encontram. Desisto. A nossa, talvez, mais intensa ligação. O momento em que verde e azul – ambas sabemos o porquê dos tons escuros e intensos – tornam-se um. E eu finalmente entendo muito melhor o significado do que falamos há dois minutos. Amor. Se o que eu sinto quando meus olhos perdem-se nos seus não é amor, nada mais é.

domingo, 24 de outubro de 2010

lights: off. fear: on #4

Seus olhos se abriram para o nada. A escuridão total o preencheu com um vazio de desespero que gritou dentro de você. A primeira coisa da qual teve consciência foram as pequenas pata deslizando pela sua pele nua. As antenas de centenas daqueles pequenos animais marrons escuros roçavam seu corpo, causando uma sensação de cócegas e nojo. Alguns deles tentavam abrir as asas para voar, mas – no escuro – acabavam tombando contra o vidro que envolvia você deixando apenas a cabeça de fora e caíam novamente sobre sua pele. Foi com certo desespero que você notou que um dos insetos – o que estava parado sobre sua coxa esquerda, beliscando sua pele junto com o algo que ele comia – era grande demais. As patas grudaram em sua pele enquanto ele se arrastava lentamente como uma barata de doze centímetros andando sobre seu corpo. O nojo o fez se debater com violência.

– Acalme-se. – Eu murmurei ao lado de seu ouvido. – Eles não são venenosos.

– QUEM É VOCÊ? – Você gritou? – ONDE EU ESTOU? TIRE ESSAS COISAS DE MIM!

– Ora, mas me apetece deixar essas coisas sobre você.

Seu corpo enrijeceu ao reconhecer o modo característico de falar que você havia dado ao seu personagem. Eu sorri sozinha, levei o copo de suco aos lábios enquanto afundava a lâmina pela quarta vez em minha pele. A dor, o sangue e o morango – uma combinação doce e cítrica. Minha última morte tinha me deixado satisfeita – o único problema era que eu não poderia repeti-la várias e várias vezes – por um tempo, mas eu precisava continuar. Por que eu o escolhi para ser o próximo? Não sei. Talvez porque você estivesse quase me implorando para ser morto. E eu, meu querido, costumo ser generosa. Ou quase.

– VOCÊ ESTÁ LOUCA? – Uma pergunta interessante, finalmente. – TIRE-ME DAQUI!

– Loucura é algo relativo. – Respondi com tranqüilidade. – Não acha?

O click veio seguido pelo feixe de luz lançado para o teto. Direcionei a lanterna para você e sorri com a minha pequena obra de arte: Os besouros – animais inofensivos e não venenosos, infelizmente – enchiam o cubo de vidro onde você se encontrava preso. Eu sabia que a sensação de asco crescia enquanto você os sentia caminhar tranqüilamente por sua pele, seu desespero crescente causando minha satisfação crescente. Você só conseguiu enxergar com um olho. Não sentia o outro – sem visão, sem leitura. Não que você fosse sair dali vivo.

– O QUE VOCÊ FEZ COM O MEU OLHO, SUA LOUCA?

– Ah, – Ergui as sobrancelhas, distraída enquanto bebia mais um gole de suco. – Desculpe-me a falta de gentileza, irei lhe mostrar.

Retirei do bolso o pequeno espelho e direcionei a luz de maneira como você pudesse ver seu próprio reflexo. O rosto imóvel por uma estrutura estranha de ferro que se erguia até seu cabelo, prendendo-o a algo que você não pôde enxergar. Mas o que o fez grunhir em desespero – quase a ponto de esquecer os insetos caminhando sobre você – foi seu olho cego. Dez agulhas o espetavam. Você não o sentia por conta da anestesia. Eu sorri débil e balancei o vidro com mais algumas agulhas diante de seu rosto. Ainda restava um dos olhos, meu querido.

– O QUE? N-ÃO! – Você gemeu. – Por favor.

Eu gosto quando vocês começam a implorar. É divertido. Deixei o pote de lado e retirei do bolso um pequeno isqueiro, mantendo-o aceso. O calor sobre sua bochecha cresceu lentamente, até começar a se tornar incomodo. Ergui a chama por todo o seu rosto, fazendo algumas gotas de suor escorrer por sua nuca, aproximando o fogo o suficiente e pelo tempo bastante para que pequenas feridas começassem a se formar. Você urrou, incapaz de falar enquanto eu destruía mais algo seu: O narcisismo. O copo de suco estava pela metade quando comecei a me entediar.

– Okay. – Exclamei, espreguiçando-me. – Vamos conversar!

Seu silêncio me fez suspirar. Tudo bem, você pediu. Ergui a mão para a válvula ao lado do equipamento instalado sobre sua cabeça, girando-a uma vez para trás. Seu cabelo esticou, preso ao equipamento. Não o suficiente para machucar, mas para lhe fazer perceber o que aconteceria caso eu girasse mais uma vez. E mais uma, e mais uma, e mais uma... Até seu cabelo ser totalmente arrancado de sua cabeça. Com sangue, medo e dor.

– Parece que você finalmente acabará a sete palmos da terra, hm? – Sorri, imitando com uma perfeição tranqüila e calmo o modo de falar do seu personagem. – Eu sei que me perguntará: Por quê? Ora, dou-lhe a resposta: Porque eu quero!

Mais uma volta. A dor começou a incomodá-lo quase mais do que os besouros andando sobre sua pele. Bebi mais um gole de suco e me coloquei próxima de seu rosto enquanto pegava uma agulha e sorria. Eu tinha bastante tempo para aquilo: Uma agulha e uma volta. Uma agulha e uma volta. Uma agulha e uma volta. E se em algum momento se perguntou se eu me satisfazia com a sua dor, a resposta é negativa. Não. Eu me satisfazia com o seu medo. O de ficar cego, o de perder o cabelo, o de insetos, o de morrer. E principalmente o medo que você sentia de mim.

– Você pode me pedir para parar quando quiser, certo? Eu não sou assim tão má. Posso te matar logo, se assim desejar. – Eu comentei casualmente. – Agora, fale-me sobre seus medos...

ps: oi, alter ego x3 não gostei muito desse, maaaaaaaaaaaaas vai saber né. nunca gosto muito mesmo rs

ps²: O besouro gigante

ps³: Obrigada @marylazarini por ajudar com algumas idéias hihi

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Someone

Encontre alguém real. Alguém que tenha compatibilidades e diferenças com você numa balança equilibrada. Alguém que admita o quanto você pode ser chata, irritante e cansativa quando quer – mas que te ame mesmo assim. Alguém que ria do estado do seu cabelo quando vocês acordarem depois de uma noite de risadas, chocolate e sussurros. Alguém que tenha altos e baixos, que tenha crises de bom e mau humor. Alguém que não seja perfeito. Perfeição demais soa como falsidade e falsidade sempre termina em corações partidos. Encontre alguém sincero. Alguém que não minta dizendo que te ama mais do que tudo, mas que te ame da melhor maneira que puder. Alguém cuja vida não gira em torno de você, mas que faça questão de te incluir em sua vida. Alguém com quem você possa conversar. Sobre música, sobre filmes, sobre sonhos e sobre a vida. Alguém em quem você possa confiar, com quem possa desabafar. Alguém que te dê um abraço desajeitado e aconchegante quando você chora, que não saiba o que fazer para te confortar, mas que tente mesmo assim. Encontre alguém que espere por você. Alguém que te faça rir, que faça chantagem com um sorriso e um olhar. Alguém que te abrace com carinho e permaneça por horas apenas conversando com você. Alguém que faça seu mundo girar com um simples beijo, que faça você sentir tudo aquilo que apenas imaginava nos filmes e livros. Encontre alguém que faça uma loucura por você. Que se sinta mal quando te magoa, mesmo sem querer. Alguém que sinta a sua falta numa balada lotada. Alguém que tenha a liberdade de ir – e que vá, mas que volte de braços e coração aberto, sem poder ficar longe de você. Alguém que te acorde no meio da madrugada ao te ligar de um show lotado, só porque a letra da música o lembrou de você. Alguém que te ligue no meio da madrugada apenas para conversar, porque sente sua falta. Alguém que te veja como uma pessoa óbvia, que decorou cada detalhe sobre você. Encontre alguém que, anos depois, não esteja cansado de você. Que te ame como – ou talvez mais do que no inicio de tudo. Ame alguém em quem você possa pensar segundos antes de adormecer e se sentir feliz – completa – por isso.

Alguém que te veja como esta pessoa, como você o vê.


ps: Explicar texto é igual explicar piada, perde totalmente a graça u.u Mas, pra quem não entender a última frase: Esta é usado pra algo que já foi descrito. No caso, a pessoa descrita no decorrer no texto. Logo, encontre alguém que te veja como a pessoa descrita e veja este alguém dessa mesma maneira e... Compliquei mais, OI! comentem anyway :)

domingo, 17 de outubro de 2010

The best lies are told with fingers tied.

– Não importa mais.

– Por que não?

– Porque você já esqueceu.

Francamente. Essa foi a coisa mais ridícula que você já me disse, e olha que você já me disse uma quantidade de coisas ridículas e impensadas incontável. Como você pode dizer isso? Como você pode acreditar nisso? Pensei que tivesse aprendido a ler meus olhos em cinco anos – mas você continua a ver apenas o que quer. Como eu poderia te esquecer, pelo amor de Deus? O seu perfume continua vivo em cada parte do meu apartamento, preso no estofamento dos sofás, nos lençóis, nos objetos, nas minhas roupas. Em mim. Cada (maldita) vez que fecho os olhos, quase consigo enxergar o seu sorriso. A sua risada escandalosa. Quase posso te enxergar correndo pelo meu apartamento como uma criança, usando óculos em algum formato idiota e rindo com meu meio-irmão mais novo. Suas bochechas corando de raiva quando alguém vence você no videogame ou conta uma piada sobre a França. Seus olhos queimando os meus sem algum motivo aparente. Todo dia quando vou dormir você volta a estar dormindo, quente e preguiçosa, entre os meus braços. Sua respiração volta a fazer cócegas em meu pescoço e você volta a me provocar como se estivesse sendo tão inocente – e eu volto a achar isso quase tão doce quanto provocante. Você volta a suspirar sob meus lábios e suas mãos voltam a apertar e arranhar minhas costas. E quando eu acordo você não está realmente lá. Eu acordo e tenho que ouvir algo como isso – que eu já te esqueci. A coisa mais ridícula do mundo. Será que você nunca vai perceber, francesa idiota, que eu te amo e que eu nunca vou poder te esquecer?

– Tem razão. Não importa mais.

ps: histórinha TOTALMENTE fictícia dessa vez :B É S/N e eu tive a idéia dormindo (pra variar), então corre o risco de ser apagada em breve (eu tenho crise de postar lawrich aqui no blog e depois apagar), maaaaaaaas XD comentem ;3

sábado, 16 de outubro de 2010

Feels Like Home

O coração dela batia como um louco. Rápido, insano, descontrolado. As mãos mais quentes do que as de qualquer outra pessoa que eu já tivesse conhecido envolveram minhas costas e os lábios queimando tocaram gentilmente os meus. Sentindo sua respiração – quente como toda ela – eu repousei a palma da minha mão sobre sua bochecha, deixando as pontas dos meus dedos a acariciarem no cabelo com carinho. O silêncio durou alguns minutos em que os lábios se reencontravam e afastavam, preguiçosos. Então ela desatou a falar. Rápida, insana e descontrolada. Ri e fechei os olhos, sonolenta, enquanto tentava acompanhar o fluxo de suas palavras e meus pensamentos acabavam se perdendo em meus próprios sentimentos. Eu me sentia em casa. O lugar ao qual pertencia.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

lights: off. fear: on #playingjigsaw

Sentimentos me irritam. É por isso que eu tento evitá-los – assim como as pessoas. Irrita-me o fato de perder o controle sobre eles quando menos espero. Eles se tornam incômodos e, quanto mais tento mantê-los em minhas mãos, mais eles fogem. Sentimentos me irritam. É por isso que me livrei de todas as pessoas que me faziam senti-los. Resta o vazio. Algumas pessoas se vêem desesperadas diante dele. Eu, particularmente, admiro. Principalmente porque posso mantê-lo sobre meu controle. Eu o domino.

Foi um sentimento – cabe a você descobrir qual – que me levou àquela casa desconhecida. Eu estava sob o controle dele e não podia mais argumentar que não queria fugir às regras – minhas regras. Eu não tinha escolha. Eu precisava matar. Por mais que eu não conhecesse o seu medo; por mais que eu sequer o conhecesse direito. Então eu usei a desculpa perfeita para enganar a mim mesma e me convencer definitivamente: Eu não conhecia os medos, mas eu podia – segundo minhas recentes descobertas – ser o seu medo. E, acredite, foi divertido.

Seus olhos se abriram para o escuro da luz baixa. Assustado, fitou-me. Eu brincava, mais uma vez, com o punhal nas mãos. A lâmina quase chegava a me cortar. Sorri para você e seus olhos se arregalaram. Você estava assustado, mas assustado não me era o suficiente. Esperei, em silêncio, enquanto você tateava as paredes de vidro que o prendiam apertado, sem poder se pôr de pé ou erguer completamente as mãos. Quando você tentou se mover mais e sentiu que estava preso pelo – eu odeio essa palavra – pênis, arregalou os olhos. O medo começou a surgir e eu sorri. Guardei o punhal e, calmamente, tomei um gole de meu suco de morango. Eu não ia me cortar. Não por você – você nunca fez parte das minhas vitimas. Foi apenas uma diversão.

– Você assistiu ao filme jogos mortais? – Seus olhos se voltaram para mim. – Quando eu era mais jovem, o jigsaw foi um dos meus serial killers preferidos. Eu gostava do que ele fazia, sabe? Dar uma chance às vitimas. Naquela época, tive uma idéia (modéstia parte) genial. Sempre esperei por uma oportunidade e, como você não faz parte das minhas vitimas normais, posso brincar um pouco. Mas não vou falar toda aquela coisa de live or die, make you choice. Sinto muito, mas é muito drama para a minha mente. Eu odeio drama, e você?

Eu estava tagarelando alegremente enquanto você tentava livrar seu órgão sexual do pequeno buraco que o prendia; fazendo metade dele pender para fora da máquina onde estava preso. Eu precisei rir sozinha. Lembra-se de como mencionei o quanto foi divertido?

– Você está preso numa máquina de pipoca, caso queira saber.

Dei de ombros, levantando-me e levando meu copo comigo. Tomei outro gole, passando a ponta da língua sobre os lábios e sentindo o gosto do morango. Aproximei-me o bastante para apoiar o nariz no vidro, bem próximo do seu rosto e, com a mão livre, girei um botão do lado de fora da máquina. O barulho como o de um fogão ligando e o fogo surgindo sobre uma pequena panela de metal aberta sobre sua cabeça ecoou pelo lugar. Sorri mais.

– O óleo, quando esquentar, começará a respingar. As laterais do vidro são bem lacradas, caso esteja se perguntando, e eu tenho óleo o suficiente para encher toda essa máquina. Há um pequeno botão ao lado de sua mão esquerda, basta girá-lo para que as trancas de uma das laterais se abram e você esteja livre.

Falsa esperança. Outra de minha sensações preferidas. Afastei-me apenas um pouco do vidro, observando-o com atenção. Você começou a girar o botão, mas sentiu os dois lados da navalha afiada pressionando seu pênis. O pequeno corte que surgiu veio seguido dos primeiros respingos de óleo, atingindo suas coxas nuas e deixando marcas avermelhadas sobre sua pele. Você gritou e eu sorri.

– POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO? – Gritou, choramingando.

Eu gosto quando vocês – em especial os homens – fazem isso. Transformam-se. De homens poderosos à menininhas chorosas em alguns minutos. É quase – quase – melhor do que o medo que posso sentir e quase tocar. Seus gritos retornaram e eu simplesmente fechei os olhos; apreciando-os. Era o seu querido órgão sexual contra a sua vida. Já diria o jigsaw, embora eu tenha dito que não falaria isso: Make your choice.

– Desculpe-me, é uma questão complicada. – Eu suspirei, como se realmente estivesse chateada por não poder contar meus motivos. – E você não tem muito tempo.

Demorou alguns minutos. Alguns minutos de choro, lágrimas e pedido de misericórdia. Minutos de suco de morango, prazer e medo. Minutos de gritos. Então, finalmente, o barulho seco das navalhas e os seus gritos aumentando ainda mais. Ao menos não me desapontou. Seu pênis, separado do corpo, caiu no chão. Em seguida, um dos vidros laterais e então seu corpo. Caiu de joelhos, sobre os cacos de vidro, fazendo mais parte de seu corpo sangrar. Olhou-me como se pedindo misericórdia, gemendo alto de dor, e eu sorri.

– Acha mesmo que eu o deixaria sair? – Perguntei, rindo. – Eu disse que gostaria de brincar de Jigsaw, querido, não que queria imitá-lo. Além do mais...

Retirei o punhal do bolso, repousando o copo de suco no chão, e me aproximei de você por trás. Você tentou evitar, mas foi em vão. Puxei-o pelo cabelo curto, fazendo seu rosto se inclinar para trás e aproximei os lábios de seu ouvido. Num movimento rápido, afundei o punhal em sua garganta. O ferimento o impediria de gritar, mas não era o suficiente para uma morte rápida.

– Eu odeio sons altos e seus gritos me irritam. – Murmurei, largando-o no chão, para morrer lentamente.

E em silêncio. Nada melhor que o silêncio.


ps: acho que os meninos acharão essa postagem mais tensa do que as meninas rs

ps²: ele não faz parte das vitimas normais (baseadas nos meus amigos), mas TODAS as vitimas são baseadas em pessoas reais #dik

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

lights: off. fear: on #3

Gostaria que ela tivesse sido a última – como foi a melhor, mas as coisas não são simples assim. Não me entendam mal. Ela sempre será a minha preferida, mas eu precisei continuar. Eu precisei sentir o aroma, o sabor e a loucura do medo novamente. Do medo alheio, antes que o meu próprio me dominasse. Não se trata de obsessão, de prazer ou de diversão. Trata-se de p r e c a u ç ã o. Nada mais (pelo menos depois dela).

O corredor estava escuro e a minha cadeira, mais uma vez, postada ao lado de uma mesinha de vidro com uma grande de taça de suco de morango. Morango e medo. Nada melhor. Sua consciência retornou exatamente quando e como eu havia previsto: Lentamente. A luz forte postada sobre a mesa cirúrgica em que você estava amarrada fez seus olhos sensíveis doerem, obrigando-lhe a fechá-los. Você tinha uma opção: Cega pela luz ou pela escuridão. A escolha não me importava nenhum pouco. Você não me importava – apenas o seu medo.

O desconforto nasceu dois segundos depois. O que está acontecendo? Perguntou-se, tentando inutilmente soltar as mãos acorrentadas à mesa gelada. Então o desconforto se converteu naquilo de mais admirável, mas primitivo e mais sincero em um ser humano: O medo. O medo do desconhecido, da morte, da incerteza. E enquanto eu me deliciava com ele, deixei a lâmina afundar em minha coxa pela terceira vez.

A ardência foi leve e o sangue escorreu pela pele branquíssima, enquanto eu erguia o punhal até a parede de pedra logo ao meu lado. Arranhei a parede, provocando um chiado baixo e – para você – ameaçador. Silêncio. Sua respiração ofegante. Um gole de suco para mim. Arranhei novamente. Protegida pelo escuro atrás de você, observei seu rosto girar de um lado para o outro, agitado. De onde vinha aquele barulho? Havia alguém a espionando? Você estremeceu só de pensar na possibilidade.

– QUEM ESTÁ AÍ? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? APAREÇA!

Seu desejo é uma ordem, pequena garota. Peguei a mascara apoiada no chão e encaixei na cabeça, deixando meu precioso suco de morango para trás enquanto o som do meu salto a deixava angustiada. Alguém estava se aproximando. Eu estava. Ergui uma das mãos à lâmpada – a outra ainda segurando o punhal – e afastei um pouco, permitindo-lhe ver. Ver a mim. O grito de horror ficou preso em seus lábios quando seus olhos azuis esverdeados se arregalaram e você se encolheu. Pela primeira vez, eu era inteiramente o medo de alguém e aquela foi uma sensação boa.

– Diga-me, o que te faz sentir medo? – Perguntei.

A máscara brincou com você. O cabelo vermelho, desgrenhado, um tufo de cada lado de minha cabeça. O rosto de cera pálido e vazio possuía uma rachadura no que seria uma das bocehchas. O grande contorno vermelho nos lábios que formavam um sorriso deformado, o nariz gigante e redondo da mesma cor e os babados coloridos em torno do meu pescoço. Poderia ser cômico para qualquer um – mas não para você. A única coisa verdadeiramente minha eram os olhos, brilhando ameaçadores, insanos, por trás da máscara. O mesmo olhar que você sempre vira dos homens que se fantasiam de alegria.

– Medo de palhaços. – Comentei, descontraída, girando o punhal nos dedos à altura de seus olhos. – Eu te entendo nisso. Você vê a verdade por trás das máscaras, é por isso que os teme tanto. Agora, tente não se mover, okay? Não quero te machucar.

Mentira. Mas nunca me importei com mentiras. Apoiei a ponta da lâmina em sua coxa nua, subindo-a devagar pelo seu corpo, sem cortar. Eu não havia tocado em minha última vitima simplesmente porque eu não conseguiria machucá-la. Mas você? Um sorriso marcou meus lábios quando seu corpo estremeceu sob a lâmina que eu agora subia pela sua barriga, contornando os seios, quase sendo carinhosa. Então parei exatamente sobre o ombro. E afundei.

O sangue manchou a sua pele e a minha. Meu sorriso de palhaço estava há dois centímetros do seu rosto enquanto seu corpo arqueava o máximo possível e você gemia de dor. Eu ri. Alto. Deixei o punhal cravado em sua pele e estendi as mãos até seu rosto, encobrindo sua boca e seu nariz. Impedindo-a de respirar. Você se debateu, evitando meus olhos quase tão maníacos quanto a mascara que eu usava. Eu estava prestes a me perder.

– Medo de morrer asfixiada. Que bobinha. – Sorri. – Tantas maneiras piores de morrer.

Seu corpo se debateu por alguns segundos, você gemeu alto e tentou se livrar das minhas mãos, a dor lhe consumindo enquanto seu pulmão gritava por ar. Nada de animais desta vez – eu estava mudando o meu modo de agir? Um pouco. Detesto repetições. Eu poderia encontrar outra vitima para voltar a usar os animais. E o principal continuava ali: O escuro e o medo.

Afastei-me do corpo, a adrenalina momentânea começando a se converter em tédio novamente. Joguei a mascara para o lado – como eu odeio palhaços! – e sentei-me para terminar o meu suco, os braços ainda sujos de sangue. A diferença foi que, quando seu coração parou de bater sob as minhas mãos, eu não estava apenas causando o seu medo. Eu fui a personificação dos seus medos até o seu último segundo de vida. Essa nova descoberta me agradou.


ps: já que virou uma série, resolvi me aprofundar mais na personagem e não só nas vitimas. 'Ela' à quem a personagem se refere no começo do texto é a última vitima.

ps²: Acho que esse não ficou tão amedrontador rs Foi algo mais tortura fisica do que emocional, mas foi o que a vítima em questão me contou em off (e eu acrescentei algumas coisas, óbvio :p)

ps³: Espero que tenha ficado bom/aceitável como os outros dois ;-; comentem, quem não comentar será a próxima vitima (e se já foi, eu mato de novo! iariariar)