terça-feira, 27 de abril de 2010

Remember Me

— Eu sei que eu não sou quem você quer que eu seja, Mas eu estou tentando, ok?

Você é exatamente quem eu quero que você seja.

(...)


— Eu descobri que as lembranças não são importantes. Elas não importam, porque você é muito mais pra mim do que lembranças... Você é parte de mim. E mesmo que eu não me lembre de muita coisa, e mesmo que isso esteja me deixando louca... Eu amo você, Sophia. E isso é inesquecível.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

...

Tic-Tac. O relógio apita e seus olhos abrem. Há uma escuridão quase cega. Você se sente grogue e algo parece fazer as batidas do seu coração soarem no fundo de sua mente como gritos altos e incômodos. Há aquele cheiro forte de sangue, suor e medo. Dos três, o último é o pior. Ele invade sua mente e tudo fica ainda mais difícil, enquanto você mal percebe que isso lhe faz dar mais um passo em direção ao inevitável.

Parece fazer dias desde que você aceitou o convite de seu amigo. Um coração partido, vodka barata e adolescentes roubadas de um país subdesenvolvido parece uma ótima combinação, não? Você só não pensou que algumas daquelas meninas possuem a idade da sua filha. Ou apenas não contava com a minha presença. Alguém que não gosta de gente como você. Que não gosta de quase gente nenhuma. Quem é que merece viver, afinal?

Seus músculos parecem estar cheios de nós. Todos perfurados por enormes agulhas invisíveis. Sua cabeça pesa e pende para os lados, o estômago revira de fome e nojo e o cheiro é tão horrível quanto todo o resto. Mas a dor aparenta já ter se tornado algo que faz parte de você, da sua existência. Não é a pior parte. Não é nada comparado ao que acontece em sua mente. Para mim, essa é a parte mais interessante. Não há um homem que não se torne um bebê chorão ao ser atormentado constantemente pelos próprios demônios. Nem os que se julgam os mais fortes, os melhores. Mas essa é apenas a minha humilde opinião.

Seus olhos pesam. A fé que nunca teve é o que lhe faz lutar contra os passos na direção daquele inevitável. Mas você é fraco. Tão fraco que chega a me desapontar, acaba com toda a minha diversão antes que eu possa aproveitá-la. Quando seus olhos voltam a se fechar e você não consegue mais abri-los, sabe que está morrendo. E suas últimas palavras formam um sussurro que me faz rir. Meu último momento de diversão. Como todos os outros, mesmo sabendo a resposta e ignorando o mal que sempre existiu dentro de você; pergunta-se: Por que eu?


E ainda me chamam de assassina. Eu tento levar como um elogio.

Mas não precisa agradecer. Um filho da puta a menos no mundo.

S. L.


da série 'coisas escritas enquanto se espera o ônibus', uma pausa nos textinhos românticos :p

ps: 'S. L.' não significa Sophia Lawrey, mas também é uma personagem rs

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Estrelas

Quando a noite caía, o sol e os turistas eram substituídos pelo silêncio e o vazio. Agradáveis. Havia apenas as luzes dos postes e das casas do outro lado da rua – nenhum carro, o vento gelado vindo do mar e as ondas mansas. E ela.

Todas as noites, após o jantar, descia as escadas correndo, atravessava a areia fria e escalava a mistura entre mato e rochas. Sentava-se à beira de uma delas, passava alguns minutos sentindo a água gelada respingar em suas pernas enquanto as ondas quebravam em alguma rocha menor e depois observava as estrelas.

No inicio, sempre lhe ofereciam companhia. Mas nunca aceitava. Dizia esperar alguém. Com o passar do tempo, concluíram que simplesmente gostava da solidão. E não era, ao todo, uma mentira. Realmente gostava da companhia silenciosa da natureza e a imensa nuvem de sensações diferentes que vinham junto.

Naquele dia, não estava sozinha. Pela primeira vez. Fizeram o caminho costumeiro, sentando-se na beirada da rocha de sempre. A segunda, desprotegida do frio, aninhou-se manhosa em seus braços. Recebida com um sorriso orgulhoso, pensativo... E feliz.

Gostava de sensações novas. Havia demorado até conseguir descobrir, separar e decorar cada uma das que sentia naquele lugar e desconfiava que demoraria ainda mais agora que a tinha. Talvez aquela vida não fosse mais o suficiente, afinal, ela havia demorado demais para chegar. Quinze anos!

E agora, com tantas sensações para descobrir, uma única vida lhe parecia muito pouco. Como aproveitaria cada uma delas o suficiente? Como decoraria cada uma delas? Como descobriria cada uma delas? Se não o fizesse, não poderia senti-las sozinha depois. Restava-lhe uma única alternativa: Teria de levá-la consigo durante a vida inteira. Não que a idéia fosse ruim.

– Hey, olha. Uma estrela cadente.

– Eu sei. Ela aparece todos os dias.

– E você faz um pedido todos os dias?

– Sim. Não só para ela. Para todas.

– E algum já foi realizado?

– Eu faço sempre o mesmo.

– Por que?

– Porque é algo que eu quero muito, oras.

– Mas tantas vezes?

Yep.

– E não vai pedir hoje?

Nop.

– Por que?

– Elas atentaram ao meu pedido.


coisas escritas enquanto se espera o ônibus. 2beijos pra quem comentar :*