domingo, 26 de setembro de 2010

Dear... Me!

Cara... Eu,

Talvez você estranhe receber uma carta do passado, mas creio que a sua – e minha – imaginação lhe permita acreditar nestas palavras insanas. Por via das dúvidas, saiba que eu sei de coisas que ninguém além de você mesma poderia saber. Sei que dias chuvosos na praia são depressivos, porém inspiradores. Sei que você conversa – ou costumava conversar – com o seu pai em pensamentos, na esperança que ele ainda possa ouvi-la. Sei que tem mais dificuldade para demonstrar sentimentos do que gostaria. Sei que tem uma mania incontrolável de começar as coisas pelo final e que sua irmã acredita que você virará uma psicopata maluca. Estranho, não é? Sei porque sou você. Alguns anos mais jovem.

Não sei em que ano está vivendo enquanto lê – provavelmente pensando que está enlouquecendo e rindo sozinha – e também não sei como é a sua vida. O quanto as coisas mudaram. O que se perdeu desde o passado em que vivo e o que se manteve com você. Eu poderia lhe contar os meus sonhos e planos, mas estou certa de que já sabe. Já os compartilhou comigo. E se alguns ou todos eles falharam, não quero precisar fazê-la relembrar tudo. Sei que eu não gostaria de relembrar. Demoro a esquecer as coisas – ainda demoro no seu futuro?

Qual o objetivo desta carta, então? Guiá-la. Recuperá-la. Lembrá-la. Sei o quanto mudanças são necessárias, mas não quero me perder de mim no futuro. Não quero que as mudanças ou o mundo me mudem completamente. Algo precisa restar. Eu tenho dezessete anos agora. Ano de vestibular. Namoro e tenho os melhores e mais irritantes amigos do mundo. Você se lembra desta época? Espero que sim. Espero que ainda conviva com pessoas que convivo hoje. Não todas.

Por favor, não deixe meu instinto materno se perder. Eu gostaria de imaginá-la com filhos – a pequena Sophia! – mas já lhe disse que tentarei não contar como me imagino no futuro. Com ou sem eles, apenas não deixe o instinto se perder. Lembre-se do quanto o amor incondicional entre uma criança e uma mãe sempre a encantou. Lembre-se quantas vezes sonhou em ter uma pequena criaturinha dentro de você, e depois em seu colo, aninhando-se em seus braços em busca de proteção e carinho. Lembre-se.

Não sei com o que trabalha, mas, por favor, lembre-se sobre àquela velha história lawrich – você ainda sabe o que isso significa? – e lembre-se de quantos dias e noites você passou escrevendo, reescrevendo, imaginando e tendo idéias para a história daquelas duas doidas. Eu entenderei se você não quiser publicá-las, mesmo que tenha a oportunidade. Sei como odeia entregar as suas garotinhas à interpretação errônea de qualquer leitor, por maior que seja a sua vontade de ver mais pessoas as admirando como você admira. Apenas, por favor, lembre-se da importância que elas tiveram. Tente tirar algumas horas do seu tempo para revivê-las dentro de si, não as deixe morrer. Por favor.

Eu espero que você tenha se tornado mais calma do que sou. Menos desesperada e impulsiva. Espero que continue apreciando os pequenos detalhes de tudo. Espero que ainda goste de ir à praia no frio, que ainda goste de sentir o cheiro da chuva e que tomar banho em cachoeiras ainda restabeleça sua paz interior. Espero que tenha se tornado menos estressada, mas não tenho grandes esperanças sobre isso. Não perca sua vontade de lutar. Seu gosto por desafios. Não perca, aconteça o que acontecer, a sua vontade de viver. E a sua capacidade de sonhar e imaginar.

Por último, e provavelmente o real motivo desta carta esquisita, não deixe de amar. Lembre-se o quanto você acreditou no amor, o quanto você o defendeu. O quanto você sonhou. Lembre-se como costumava – espero que ainda costume – ser romântica. Incurável. Não importa quantas vezes você tenha chorado ou sofrido, não desista. Aprenda, cresça e mude o quanto for preciso. Mas, por favor, ame. Ame com a mesma intensidade que você já amou algum dia nos meus dias.

Espero que você tenha rido de cada item desta carta, perguntando-se como, no passado, conseguiu imaginar que alguma destas coisas importantes poderiam se perder de você. Um beijo,


....Eu.


ps: Eu acho que tirei a idéia de algum lugar, mas eu não tenho certeza e consequentemente não lembro de onde, então sorry rs

ps²: layout e banner novos feitos pela @marylazarini (do Colecionando Cores), o que vocês acharam? *-* Eu atorein e achei a minha cara *-* Obg Mah x3

ps³: Se alguém quiser dizer mais algo à eu [?] do futuro, sinta-se à vontade rs

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

lights: off. fear: on #2

A primeira coisa de que você tem consciência ao acordar é que está deitada. Tenta mover as mãos, mas percebe que estão amarradas. A água encobre seu corpo, com exceção do rosto. Frio. Tão frio que seu corpo inteiro dói. Onde eu estou? É seu primeiro pensamento, antes mesmo de abrir os olhos, e ao fazê-lo deseja que tivesse sido o último. Suas pernas estão encolhidas por falta de espaço, os braços rentes ao corpo e sua respiração embaça um pouco o vidro acima de você, de tão próximo que ele está. Você percebe que está presa numa espécie de caixa transparente apertada e imediatamente se sente claustrofobica. O ar lhe escapa, como se seus pulmões tivessem se reduzido ao tamanho de uma pequena uva, incapaz de satisfazer todo o seu corpo. Força os pulsos contra o que a prende, movendo as pernas e fazendo a água se agitar, numa tentativa inútil de escapar.

– Não vai adiantar.

Seu rosto gira, acompanhando minha voz quase entediada, mas não consegue ver nada além da escuridão. O escuro e o barulho da chuva forte atingindo as paredes daquele velho galpão abandonado. O lugar perfeito para alguém como eu – e como você. A trovoada forte ecoa demorada e, combinada com o flash de luz que escapa pelas janelas de vidro lá no alto, faz você estremecer violentamente e fechar os olhos com força. Ah, como é doce o cheiro do medo. Até mesmo o do seu medo.

– Admito que estou esperando há um bom tempo, mas parece que encontrei a noite perfeita. Agora, diga-me, o que te faz sentir medo?

Sorri. É claro que eu sabia. É claro que você não responderia. Tantas coisas óbvias. Óbvias como você. Eu fechei meus olhos, deixando-a ser envolvida e dominada pelo próprio medo. O frio. O ar fugindo. A tempestade rugindo sobre nossas cabeças. O escuro. A incerteza. Conclui a minha parte do ritual; deixando a lâmina escorregar e o sangue pintar minha coxa que já continha algumas outras cicatrizes idênticas. Não que eu goste da dor. Trata-se de redenção. Fugir i n f e r n o. Um corte por uma morte. Talvez não seja justo – é apenas o suficiente para me enganar.

– Tenho uma surpresa para você! – Eu sorri, alegre, enquanto me levantava. – É só algo para dar um toque especial. E, por favor, seja agradável! Eu me esforcei para pensar, porque ter medo de galinhas me soou um pouco bizarro demais. Sério.

Quando me aproximei e acendi as lanternas presas a pequenas mesinhas que envolviam o cubículo em que você estava presa, o grito de horror ficou preso em sua garganta. Treze galinhas empalhadas e parcialmente iluminadas pelas lanternas formavam um circulo ao seu redor. Os bicos abertos, as asas estendidas e os olhos presos à você pareciam agourentos. Assustadores. Você se debateu mais, a trovoada que ecoou me fez soltar uma gargalhada enquanto você estremecia com ainda mais horror.

– E agora o toque final... Talvez eu tenha exagerado, mas gosto de exageros. E aí vai o aviso de sempre: Elas não vão te atacar, se você não se mover.

Desespero. Frio. Horror. Nojo. Escuro. As dez pequenas cobras deslizaram pela água do meu pequeno aquário – que continha você. Algumas se enroscaram em seu tornozelo, subindo geladas e pegajosas por suas pernas, até as coxas. Outra deslizando por seu rosto, fazendo-a contrair os lábios e conter um soluço quando a trovoada cortou o céu e iluminou a escuridão, fazendo os olhos da galinha morta parecerem piscar divertidos para você.

– As regras são simples: Peça-me para acabar com tudo isso. Do contrário, você ficará aí. A tempestade talvez passe, mas não todo o resto. Não tenha pressa, ok? Eu estarei aqui. Sempre aqui.

A sentença final. Afastei-me, sumindo novamente na escuridão. Sentei à minha cadeira, tranqüila, esticando o braço para a grande taça de suco de morango. Morango e medo. O seu medo.

ps: meu alter ego assassino dominando meu alter ego romântico. por quanto tempo? rs e não gostei tanto desse, mas...

Pedaços de um futuro

Suspenses policiais. Psiquiatria. Contos nos jornais. Uma criança. Vista para o oceano. Tempestades inspiradoras. Gatos. Amigos. Lembranças. Música. Livros, muitos livros. Filmes. Garrafas de tequila. Morango. Sophia. Notebook. Escritório. Três livros nunca publicados. Família. Chá quente. Silêncio. P-a-z.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Simples e descomplicado

01:14 am;

Simples e descomplicado. Fácil. Certo. Foi como soou naquele instante. Tão certo quanto o coração batendo rápido e descompassado. Ela beijou minha bochecha e eu sorri, achando graça. Inocente. Ou não. Eu a olhei e, antes que pudesse pensar em qualquer coisa, os lábios tocaram o canto dos meus. Rápido. Demais. Eu não soube mais se meu coração havia parado ou acelerado. Eu não soube mais o porquê de não conseguir tirar os olhos dos dela; como se estivesse presa lá. Eu nem sequer queria tirar os olhos dela. Era estranho. Louco. Insano. Eu nunca saberia dizer se foi o arrepio agradável – o primeiro de todos – ou o nervosismo que me impediu de me mover. Eu só consegui sorrir bobamente, sentindo a respiração dela me envolver. Sentindo os lábios dela quase roçarem nos meus. Como se eu tivesse esperado minha vida inteira por aquilo.

– Posso? – Ela murmurou.

Sorri. Talvez eu realmente tivesse esperado por aquilo a vida inteira.

– Uhum...

Naquele instante, com um simples – tremula e nervosa – palavra, eu não poderia adivinhar o que aconteceria depois. Depois daquele beijo, o primeiro de vários. Depois de tudo. Naquele momento, tudo soou simplesmente simples e descomplicado. Fácil. Certo.

Dois anos depois, a minha resposta seria exatamente a mesma.

Simples e descomplicada.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

lights: off. fear: on

Fechou os olhos, a lâmina gelada pressionada contra a coxa com uma leveza contraditória. A ardência seguiu uma linha fina por sua pele e em seguida veio o sangue. E a dor. Jogou a cabeça para trás e sorriu. O coração batia em seu peito, mas estava realmente viva? Tudo o que podia sentir no momento era o desejo. O desejo dele. O veneno pulsava em sua veia, espalhando-se por seu corpo numa velocidade inacreditável.

– O que diabos você está fazendo?

A voz rouca e assustada a despertou dos pensamentos. A faca descansou sobre a coxa que ainda sangrava, manchando a pele pálida de vermelho. Reabriu os olhos, ainda sorrindo. Sempre sorrindo. Homem branco. Entre trinta e trinta e cinco anos de idade. Amarrado numa cadeira. Sangue escorrendo de sua sobrancelha e de algum ponto em seu ombro. Sujo. Totalmente nu. Os olhos castanhos sempre frios, sempre arrogantes, sempre machistas, fitaram os dela.

– Diga-me, você lembra o que te faz sentir medo?

Sua voz soou calma, divertida. Ele estremeceu. Brincou com o objeto afiado entre os dedos, girando-o. Torturando-o sem nem se mover. A demora a instigava. Era como sexo – talvez até melhor. Como quando se chega quase ao ponto máximo de prazer e para. E espera. E provoca. E brinca. A insanidade brilhava em seus olhos claros. O desejo pulsava mais e mais forte. E ao contrário do que o que haviam imaginado, ao contrário do que sempre demonstrara, nunca fora boa em se controlar. Ao menos não naquilo.

– Sabe àqueles medos de infância? – Comentou casualmente. – Aranhas? Escuro? Será que você realmente os superou?

Um click e as luzes se apagaram. Tudo escuro. Por um, dois, três segundos... E um feixe de luz surgiu da lanterna dela. Levantou-se. Os passos ecoaram pelo salão vazio, exceto pelos dois. Aproximou-se. A luz muito forte direto nos olhos dele o fez virar o rosto e apertar os olhos. E então seu corpo enrijeceu ainda mais. Palavras desconexas voaram de seus lábios e forçou os braços e as pernas contra as cordas para tentar se soltar. Sabia que não conseguiria. Os olhos arregalados se prenderam na mão livre nela: Um pote transparente cheio de aranhas.

– NÃO! NÃO FAÇA ISSO! POR FAVOR!

– Oras, vamos lá. – Ela riu, divertida. – Só um pouco de animação aqui, estou começando a ficar entediada. Escute-me: Elas não vão te atacar se você não se mover. Simples, não é?

Outro click. O escuro total preencheu o galpão, o ar, os pulmões. Demorou alguns barulhos estranhos e um minuto, e então ele sentiu. As patas do primeiro animal tocaram sua pele nua, correndo curiosamente pela parte interna de sua coxa. A segunda aranha correu barriga acima. A terceira foi depositada cuidadosamente em seu ombro e a quarta no alto de sua cabeça, escorregando por seu rosto. Gemeu sem mover os lábios, o corpo inteiro rígido, cheio de nojo e repulsa, estremecendo sob o contato daqueles pequenos animais mortais.

– Quando você se acostumar com elas. – Disse, piscando a lanterna algumas vezes. – Começará a notar no escuro. Mas não se preocupe, não há nada nele para temer. Além das aranhas... E à mim, talvez.

Outra risada. Belo senso de humor. Voltou para sua própria cadeira. Pernas cruzadas, a lâmina afiada contra a pele mais uma vez. A dor novamente – e o impulso. Luzes apagadas. Olhos fechados. Bebeu um gole do suco de morango deixado na mesinha ao lado, a mistura entre o azedo e o doce a relaxou. A divertiu.

– Você só precisa me pedir para acabar logo com isso. Mas não tenha pressa, eu tenho a noite toda. Quanto mais você demorar, maior será a minha diversão. Sério.

Inspirou profundamente. O cheiro a invadiu, fazendo o sorriso retornar. Era o cheiro do medo. O sentimento mais apreciado por ela. O medo dos homens era, em particular, seu preferido. Era doce e atraente. Melhor do que sexo. Melhor do que matar. Vida em seu estado mais primitivo: O medo.

ps: dexter demais causa... isso.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sshhh!

Silêncio. Ao meu redor, na minha mente, no meu coração. Nenhuma palavra. E acredite, eu as procurei em cada canto de mim. S i l ê n c i o! Tão ensurdecedor, tão envolvente e tão agradável. A minha p e r d i ç ã o. Eu deveria ter previsto este dia – em que n e n h u m a palavra serviria para mim. Logo para mim! Eu que as busquei para tudo; para desabafos monótonos, contos fantásticos e tentativas vãs de falar sobre o amor. Você venceu! E eu me calei.

Não por vontade própria. Vê? Ainda estou tentando, eu e o meu velho problema em desistir. Calei-me por necessidade. Por compaixão a mim mesma. Não me leve a mal, eu apenas não agüentava mais. Eu estava ficando louca com essas tentativas. Eu vi a i n s a n i d a d e de perto. E perdoe-me admitir: Eu gostei. Gostei tanto que guardei parte dela para mim. Como guardei parte tua para mim. Em mim. Não que importe agora. Voltamos ao assunto: O silêncio ao qual me rendi depois de tantas tentativas. Você as acompanhou, não é? Você as conhece! Você me conhece. Tão bem quanto eu a conheço.

Tentei pelo teu sorriso – ah, o teu sorriso! – e pelos teus olhos. Tentei pela nossa história, que não faz tanto sentido para mais ninguém além de eu e você. Tentei pelas conversas e pelos momentos barulhentos. Quase uma ofensa! Tentei pelo modo como me beija, pelo poder que teu abraço tem sobre mim. Tentei, desesperadamente, pelo que me faz sentir. Tentei tantas vezes e de tantas maneiras que consigo me perder, mesmo nesses poucos exemplos. Foi por acaso que encontrei a solução, ao menos a solução temporária. A resposta, minha menina, está no silêncio.

Sorrindo para o teu sorriso e me perdendo dos teus olhos, ele me envolveu. Nossa história deveria continuar em silêncio eterno. Intocada em nossas memórias, porque cada vez que tentamos contá-la, uma pequena às vezes insignificante parte é alterada. Nossas melhores conversas, estou certa que se lembra disto, foram ditas no colo dele, nossos melhores momentos dispensaram qualquer p a l a v r a. Ele ocultou nossos beijos secretos e, mais uma vez, dominou-me em cada uma das vezes em que estive nos teus braços.

Você faz idéia de quantas vezes isso aconteceu antes de você, meu amor?

N e n h u m a. O silêncio nunca me dominou de tal forma e eu sempre me perguntei quando seria surpreendida pela falta de palavras. Sempre me perguntei quem ganharia minha admiração e a mim inteira ao me roubá-las.

E agora eu sei que o s i l ê n c i o pode explicar tudo melhor do que eu. Se quiser, talvez você (só você) possa ouvi-lo e entendê-lo. Se tiver sorte, ele lhe permitirá sentir meu coração batendo. Quando? Eu não sei. Mas estou certa de que eu aguardarei você finalmente entenderá.


ps:ah, como eu adoro brincas com as palavras (e o silêncio!) *-*

ps: às vezes o texto pode fazer sentido para mim agora (6 da manhã, bom dia) e não faça para mais ninguém (nem pra mim depois de eu dormireacordar rs), mas... Essa é a parte legal, não é?

ps: foi um surto e eu nem sei de onde veio - do silêncio? rs - e as partes em negrito, itálico, riscadas, soletradas e afins foram só pra deixar mais bonitinho -q

ps: o titulo é inutil, mas foi... outra brincadeirinha que quase ninguém (e disso tenho certeza rs) vai entender, mas essa é outra parte legal *-*

ps: falo demais com sono oO e adoro comentários *-*