quarta-feira, 2 de março de 2011

A maravilha do livre arbítrio

Primeiro a vodka. Ou a tequila, quando o dinheiro permite. Não se importa com o rótulo, nem com a cor, nem com o cheiro, nem com o gosto. Apenas com a ardência no peito e depois a sensação. Uma, duas, três... A conta nunca passa da quinta dose, o consumo varia dependendo da noite. Sempre mais do que meia garrafa. Depois do álcool, os beijos. As mãos, os abraços, a pele. O calor, tanto calor, tanto desejo. Tanto vazio. Em seguida, o quarto mais próximo. Ou uma cozinha, uma sala, um banheiro, um hall, um estacionamento, um carro, um canto na balada. Não se importa com o lugar, nem com o nome, nem com o rosto. Apenas com a luxuria, o sangue correndo depressa, o coração batendo como louco, a respiração descontrolada, os gemidos. Por fim, o êxtase. E então as memórias somem por completo.

Acorda sem fazer noção de tempo ou espaço. Sente alivio ao reconhecer a própria cama, mas não sabe como chegou lá. O relógio marca três horas da tarde e demora três segundos para se lembrar de que é domingo. E, exceto por uma presença solitária, a cama está vazia. Flashes da noite anterior retornam e a ressaca moral atinge o estômago com socos que fazem o álcool voltar aos lábios, amargo. Corre para o banheiro e, colocando para fora toda a bebida, também coloca as lágrimas. Porque a cama está vazia. Porque o corpo desconhecido e sem nome não tinha os lábios tão gentis, nem a pele tão macia, nem o toque tão certo, nem o beijo tão doce. O vazio disfarçado na noite anterior grita pela manhã. Volta até a cozinha e engole comprimidos para a dor de cabeça enquanto prepara um café forte. Sem açúcar.

O domingo é passado em frente à televisão. A segunda-feira lembra que há um trabalho para freqüentar. A terça-feira traz uma dor de cabeça insuportável. A quarta-feira aparece com insônia e nem abraçar os travesseiros imaginando aquele perfume doce ajuda. A quinta-feira vem para sair com os colegas após o trabalho, beber num bar qualquer e terminar no apartamento solitário. Enfim, a sexta-feira! Em visita ao terapeuta, faz a mesma pergunta de sempre: Por que?

(Por que fui trair àquela pessoa a quem amava? Por que não dei valor àquela pessoa que me amava; e a quem eu amava? Por que desisti? Por que parei de tentar? Por que nem tentei? Por que não tenho uma chance no amor? Por que não tenho uma chance profissionalmente? Por que as pessoas me fazem sofrer? Por que nada pode dar certo para mim? Por que minha vida é tão miserável? Por que não sou feliz?)

E apenas uma resposta me passa pela cabeça: Porque você quer, meu amor.

ps; Aprendi fazendo uma interpretação sobre um livro uma coisa que sempre quis usar: Sem nome (e no caso também sem sexo), qualquer pessoa pode ser ou se identificar com o personagem. Logo, não me culpem caso isso aconteça, fiz pensando em ninguém.

ps²: faz tempo que eu não apareço aqui, né? um beijo no coração (q) de quem comentar rrumar

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