quinta-feira, 23 de setembro de 2010

lights: off. fear: on #2

A primeira coisa de que você tem consciência ao acordar é que está deitada. Tenta mover as mãos, mas percebe que estão amarradas. A água encobre seu corpo, com exceção do rosto. Frio. Tão frio que seu corpo inteiro dói. Onde eu estou? É seu primeiro pensamento, antes mesmo de abrir os olhos, e ao fazê-lo deseja que tivesse sido o último. Suas pernas estão encolhidas por falta de espaço, os braços rentes ao corpo e sua respiração embaça um pouco o vidro acima de você, de tão próximo que ele está. Você percebe que está presa numa espécie de caixa transparente apertada e imediatamente se sente claustrofobica. O ar lhe escapa, como se seus pulmões tivessem se reduzido ao tamanho de uma pequena uva, incapaz de satisfazer todo o seu corpo. Força os pulsos contra o que a prende, movendo as pernas e fazendo a água se agitar, numa tentativa inútil de escapar.

– Não vai adiantar.

Seu rosto gira, acompanhando minha voz quase entediada, mas não consegue ver nada além da escuridão. O escuro e o barulho da chuva forte atingindo as paredes daquele velho galpão abandonado. O lugar perfeito para alguém como eu – e como você. A trovoada forte ecoa demorada e, combinada com o flash de luz que escapa pelas janelas de vidro lá no alto, faz você estremecer violentamente e fechar os olhos com força. Ah, como é doce o cheiro do medo. Até mesmo o do seu medo.

– Admito que estou esperando há um bom tempo, mas parece que encontrei a noite perfeita. Agora, diga-me, o que te faz sentir medo?

Sorri. É claro que eu sabia. É claro que você não responderia. Tantas coisas óbvias. Óbvias como você. Eu fechei meus olhos, deixando-a ser envolvida e dominada pelo próprio medo. O frio. O ar fugindo. A tempestade rugindo sobre nossas cabeças. O escuro. A incerteza. Conclui a minha parte do ritual; deixando a lâmina escorregar e o sangue pintar minha coxa que já continha algumas outras cicatrizes idênticas. Não que eu goste da dor. Trata-se de redenção. Fugir i n f e r n o. Um corte por uma morte. Talvez não seja justo – é apenas o suficiente para me enganar.

– Tenho uma surpresa para você! – Eu sorri, alegre, enquanto me levantava. – É só algo para dar um toque especial. E, por favor, seja agradável! Eu me esforcei para pensar, porque ter medo de galinhas me soou um pouco bizarro demais. Sério.

Quando me aproximei e acendi as lanternas presas a pequenas mesinhas que envolviam o cubículo em que você estava presa, o grito de horror ficou preso em sua garganta. Treze galinhas empalhadas e parcialmente iluminadas pelas lanternas formavam um circulo ao seu redor. Os bicos abertos, as asas estendidas e os olhos presos à você pareciam agourentos. Assustadores. Você se debateu mais, a trovoada que ecoou me fez soltar uma gargalhada enquanto você estremecia com ainda mais horror.

– E agora o toque final... Talvez eu tenha exagerado, mas gosto de exageros. E aí vai o aviso de sempre: Elas não vão te atacar, se você não se mover.

Desespero. Frio. Horror. Nojo. Escuro. As dez pequenas cobras deslizaram pela água do meu pequeno aquário – que continha você. Algumas se enroscaram em seu tornozelo, subindo geladas e pegajosas por suas pernas, até as coxas. Outra deslizando por seu rosto, fazendo-a contrair os lábios e conter um soluço quando a trovoada cortou o céu e iluminou a escuridão, fazendo os olhos da galinha morta parecerem piscar divertidos para você.

– As regras são simples: Peça-me para acabar com tudo isso. Do contrário, você ficará aí. A tempestade talvez passe, mas não todo o resto. Não tenha pressa, ok? Eu estarei aqui. Sempre aqui.

A sentença final. Afastei-me, sumindo novamente na escuridão. Sentei à minha cadeira, tranqüila, esticando o braço para a grande taça de suco de morango. Morango e medo. O seu medo.

ps: meu alter ego assassino dominando meu alter ego romântico. por quanto tempo? rs e não gostei tanto desse, mas...

9 comentários:

  1. odeio seu alter ego assassino ._. sério

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  2. Seu lado psicopata está aflorando u.ú
    Mas as torturas são muito parecidas (comparando os dois textos)

    De qualquer forma, amei do texto *-*

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  3. bom, a parte mais tensinha de ler pra mim foi ela vendo q estava presa no aquario... o resto até q foi tranquilo =/
    mas tmbm não sou eu q tem medo de galinhas e cobras xD

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  4. as mortes parecidas são propositais. É a mesma serial killer do primeiro texto, logo, ela tem um 'ritual' pra matar rs

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  5. ._. o_o O_O

    ._. i.i ;; T_T


    não quero mais brincar com você, boba ç_ç

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  6. "as mortes parecidas são propositais. É a mesma serial killer do primeiro texto, logo, ela tem um 'ritual' pra matar rs "


    isso chama Modus Operandi, rs #CiênciasForensesFeelings

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  7. Depois desse texto até EU tenho medo de galinhas. Mas mais de você, Gumz O:

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  8. Modus Operati<< nao? mas enfim, eu tinha lido sobre isso uma vez e achei bem interessante... aguardando o proximo texto *--*

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  9. não, é Modus Operandi mesmo xD estudei isso HODSAHOADIS

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