quinta-feira, 11 de março de 2010

People

O lado bom de não se deixar envolver pelas pessoas é não sofrer depois. Eu não consigo gostar de qualquer um com facilidade. As pessoas me irritam. E nem é só porque elas sempre são falsas, hipócritas, inconstantes, egoístas ou medrosas. Ou só uma dessas coisas. Todo mundo é um pouco assim. Eu sou um pouco assim. E eu quase não agüento a mim mesma por isso. Mas esse não é, nem de longe, o maior dos meus problemas com as pessoas.

O problema é que elas são cansativas.

Tediosas. Repetitivas.

Tédio me irrita. Talvez seja esse o meu motivo para escrever. Criar pessoas é muito mais divertido do que agüentá-las. É fácil criar alguém perfeito, imaginá-lo. Mas o mais legal é criar personagens imperfeitos. Talvez por isso eu goste dos vilões e não dos mocinhos. Os vilões geralmente são muito mais complexos. Eles sempre têm um lado bom. Eles têm motivos, medos e perguntas. Enquanto isso, os mocinhos são chatos e tediosos. Bonitos. Perfeitos. Cheios de si. Certos do que querem. Metidos a solidários ou bonzinhos.

Igual às pessoas. Ou a maioria delas.

Nos últimos dois anos, ou um pouco menos, o que mais me irrita nelas é como elas não se importam. Alguém alguma vez te disse que se importa? Era mentira. Ninguém se importa. Quando meu pai morreu, eu subi o morro de um hospital correndo atrás da ambulância.

De pijama.

Eu cheguei ao hospital com a esperança de que não fosse assim tão grave. Aquela esperança que a gente sente quando sabe que acabou e não quer acreditar. A mesma esperança que talvez eu sinta nesse momento. Quando toda essa pequena esperança se quebra... Dói.

Dói.

Eu vi o médico entregando a aliança dele para a minha mãe e eu era esperta o suficiente para ler o que os olhos dele diziam. Eu não fiquei para ouvir aquele ‘sinto muito’. Esse ‘sinto muito’ típico também me irrita.

Eu lembro exatamente do que senti enquanto refazia o caminho para a casa da minha avó, com a minha mãe chorando ao meu lado. Eu lembro exatamente de como eu queria gritar, como eu queria que ele voltasse, como eu queria que fosse mentira, como eu queria acordar e descobrir como fora um pesadelo, como eu queria que alguma daquelas pessoas que passavam na rua se importasse. A sensação de querer de volta e não poder fazer nada me incomodou por meses.

Exatamente como eu me sinto agora.

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