sábado, 16 de outubro de 2010

she will be loved

De longe, seus olhos podem muito bem ser negros. Completamente, como o cabelo. De perto, variam. Variam como ela. Sempre em tons castanhos, às vezes mais claros ou escuros. Dependem do humor, da luz, do dia. Como ela. É a garota mais instável que eu já conheci.

Apaixonada por filmes, prefere os de terror sangrentos num dia, suspense psicológico no outro e comédia romântica no seguinte. E isso para comentar apenas sobre os filmes. De música gosta o tempo inteiro, invariavelmente. Até toca alguns instrumentos. E canta. Sempre gostei da voz dela. Também é apaixonada por livros, futebol e fotografia. Gosta de fotografar o mundo e se torna um tanto narcisista ao voltar a câmera para si mesma. É a melhor escritora que eu conheço.

É relativamente simples e mais apegada à família do que geralmente demonstra. Sente falta da infância, de ter maior atenção do pai e é muito preocupada com a mãe. Duvido que sobreviveria sem seu irmão. Caseira e politicamente correta. Têm uma ligeira aversão à cerveja, cigarro e drogas. Não costuma sair à noite com freqüência, não gosta de pessoas folgadas e não concorda em ficar só por ficar. Fiel em todos os sentidos – aos amigos, a um relacionamento e a si mesma.

Possui uma mania irritante de apaixonar as pessoas – até a mim. Criativa, comunicativa e extremamente falante. Dona de uma facilidade invejável de se expressar, tanto pelas palavras ou fala quanto pelo rosto. Nada tímida e muito brincalhona. Apaixonada pelos amigos e muito preocupada com eles. Geralmente sincera e bastante engraçada. Gosta de se divertir com eles, em qualquer hora e em qualquer lugar. Nada decidida e um pouco confusa.

Por ser seletiva e ter preguiça social, soa arrogante ou metida aos desconhecidos, talvez realmente seja um pouco assim. E nunca negou isso. Irrita-se com uma facilidade imensa e tem o humor instável. É um tanto quanto possessiva e ciumenta com objetos e pessoas. Orgulhosa e extremamente teimosa. Organizada. Não gosta que mexam em suas coisas, não gosta de emprestar livros e não gosta de pessoas efusivas demais. Odeia ser pressionada. Não gosta de muitas coisas.

Inteligente e extremamente critica. Gosta de debater sobre assuntos importantes e sabe defender suas opiniões como ninguém, embora saiba aceitar as dos outros. Preocupa-se com questões ambientais e com política, é muito madura e nenhum pouco fútil. Gosta de manter as coisas sob seu controle. Aprecia o silêncio e precisa dos momentos apenas seus. Uma mulher forte e independente. Auto-suficiente.

No fundo, continua a ser uma menina – e eu espero que sempre continue. Manhosa, extremamente carente e muito carinhosa. Tende a ser retardada quando está com sono. Seus olhos são geralmente doces e extremamente óbvios – ao menos para mim. É uma chantagista e manipuladora emocional exímia. Preguiçosa, discreta e romântica. Gosta de ser mimada, gosta que alguém cuide dela, gosta de receber atenção total. Um tanto quanto lenta. Implica e irrita para demonstrar amor.

Têm mania de morder e é dona dos sorrisos mais encantadores. Das gargalhadas divertidas aos lábios curvados para o lábio de maneira tímida, maliciosa ou prepotente. É a pessoa que tem a pele mais naturalmente quente que eu já conheci, talvez por isso tenha um abraço tão gostoso. Dorme em cinco minutos se alguém lhe acaricia o cabelo, é sensível e não gosta de ser contrariada.

Nada perfeita e ainda assim – talvez exatamente por isso – a única pessoa capaz de conseguir o dificil ato de chamar minha atenção e de me fazer querer conhecê-la, amá-la e cuidá-la durante seis anos. E ainda é pouco.

O pior de tudo? Ela tem cheiro de morango. Morango é meu maior vicio.

PS: Não gostei nadinha e não descrevi como queria rs daria pra colocar muito mais coisa u.u algumas não coloquei a proposito, algumas eu não soube direito onde ecaixar o rs mas né u.u desisti e vai assim mesmo ;3

Feels Like Home

O coração dela batia como um louco. Rápido, insano, descontrolado. As mãos mais quentes do que as de qualquer outra pessoa que eu já tivesse conhecido envolveram minhas costas e os lábios queimando tocaram gentilmente os meus. Sentindo sua respiração – quente como toda ela – eu repousei a palma da minha mão sobre sua bochecha, deixando as pontas dos meus dedos a acariciarem no cabelo com carinho. O silêncio durou alguns minutos em que os lábios se reencontravam e afastavam, preguiçosos. Então ela desatou a falar. Rápida, insana e descontrolada. Ri e fechei os olhos, sonolenta, enquanto tentava acompanhar o fluxo de suas palavras e meus pensamentos acabavam se perdendo em meus próprios sentimentos. Eu me sentia em casa. O lugar ao qual pertencia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

hero & vilain

4:40 am. Não sei o que escrever. Odeio escrever à mão. Não sei por que quero escrever sobre amor novamente, é repetitivo demais e prefiro ser repetitiva com meu novo alter ego (vide Lights and Fear). Talvez porque sempre preferi os vilões. Meu alter ego que representa o lado bom é pateticamente romântico e chato, como quase todos os mocinhos.

Nem sei que linha de raciocínio estou seguindo.

Meu travesseiro está com cheiro de amaciante. E morango. O morango que eu já deveria ter enfiado no fundo da gaveta para que pare de impregnar o quarto e eu possa manter o restante da minha sanidade. Mas eu gosto do cheiro. É familiar e quente – não espero que alguém entenda. Faz com que eu me lembre de noites completamente diferentes desta. Noites quentes e repletas de risadas. E sussurros. E toques. E beijos. E carinhos. E cumplicidade. E certeza. E paz. E que acabam.

Sempre pedi para que não acabem, mas nunca fui atendida. Pelo contrário, elas sempre parecerem passar ainda mais depressa. Mas sou teimosa e continuarei a pedir. Quem sabe, um dia, elas se tornem eternas como já são em minha mente.

Meu alter ego anti-herói está querendo vomitar agora.


ps: parte de um texto escrito provavelmente quase dormindo, pq não lembro de escrevê-lo UDHSAONDSADSA depois penso sobre postar o outro rs comentem e_é

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

lights: off. fear: on #playingjigsaw

Sentimentos me irritam. É por isso que eu tento evitá-los – assim como as pessoas. Irrita-me o fato de perder o controle sobre eles quando menos espero. Eles se tornam incômodos e, quanto mais tento mantê-los em minhas mãos, mais eles fogem. Sentimentos me irritam. É por isso que me livrei de todas as pessoas que me faziam senti-los. Resta o vazio. Algumas pessoas se vêem desesperadas diante dele. Eu, particularmente, admiro. Principalmente porque posso mantê-lo sobre meu controle. Eu o domino.

Foi um sentimento – cabe a você descobrir qual – que me levou àquela casa desconhecida. Eu estava sob o controle dele e não podia mais argumentar que não queria fugir às regras – minhas regras. Eu não tinha escolha. Eu precisava matar. Por mais que eu não conhecesse o seu medo; por mais que eu sequer o conhecesse direito. Então eu usei a desculpa perfeita para enganar a mim mesma e me convencer definitivamente: Eu não conhecia os medos, mas eu podia – segundo minhas recentes descobertas – ser o seu medo. E, acredite, foi divertido.

Seus olhos se abriram para o escuro da luz baixa. Assustado, fitou-me. Eu brincava, mais uma vez, com o punhal nas mãos. A lâmina quase chegava a me cortar. Sorri para você e seus olhos se arregalaram. Você estava assustado, mas assustado não me era o suficiente. Esperei, em silêncio, enquanto você tateava as paredes de vidro que o prendiam apertado, sem poder se pôr de pé ou erguer completamente as mãos. Quando você tentou se mover mais e sentiu que estava preso pelo – eu odeio essa palavra – pênis, arregalou os olhos. O medo começou a surgir e eu sorri. Guardei o punhal e, calmamente, tomei um gole de meu suco de morango. Eu não ia me cortar. Não por você – você nunca fez parte das minhas vitimas. Foi apenas uma diversão.

– Você assistiu ao filme jogos mortais? – Seus olhos se voltaram para mim. – Quando eu era mais jovem, o jigsaw foi um dos meus serial killers preferidos. Eu gostava do que ele fazia, sabe? Dar uma chance às vitimas. Naquela época, tive uma idéia (modéstia parte) genial. Sempre esperei por uma oportunidade e, como você não faz parte das minhas vitimas normais, posso brincar um pouco. Mas não vou falar toda aquela coisa de live or die, make you choice. Sinto muito, mas é muito drama para a minha mente. Eu odeio drama, e você?

Eu estava tagarelando alegremente enquanto você tentava livrar seu órgão sexual do pequeno buraco que o prendia; fazendo metade dele pender para fora da máquina onde estava preso. Eu precisei rir sozinha. Lembra-se de como mencionei o quanto foi divertido?

– Você está preso numa máquina de pipoca, caso queira saber.

Dei de ombros, levantando-me e levando meu copo comigo. Tomei outro gole, passando a ponta da língua sobre os lábios e sentindo o gosto do morango. Aproximei-me o bastante para apoiar o nariz no vidro, bem próximo do seu rosto e, com a mão livre, girei um botão do lado de fora da máquina. O barulho como o de um fogão ligando e o fogo surgindo sobre uma pequena panela de metal aberta sobre sua cabeça ecoou pelo lugar. Sorri mais.

– O óleo, quando esquentar, começará a respingar. As laterais do vidro são bem lacradas, caso esteja se perguntando, e eu tenho óleo o suficiente para encher toda essa máquina. Há um pequeno botão ao lado de sua mão esquerda, basta girá-lo para que as trancas de uma das laterais se abram e você esteja livre.

Falsa esperança. Outra de minha sensações preferidas. Afastei-me apenas um pouco do vidro, observando-o com atenção. Você começou a girar o botão, mas sentiu os dois lados da navalha afiada pressionando seu pênis. O pequeno corte que surgiu veio seguido dos primeiros respingos de óleo, atingindo suas coxas nuas e deixando marcas avermelhadas sobre sua pele. Você gritou e eu sorri.

– POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO? – Gritou, choramingando.

Eu gosto quando vocês – em especial os homens – fazem isso. Transformam-se. De homens poderosos à menininhas chorosas em alguns minutos. É quase – quase – melhor do que o medo que posso sentir e quase tocar. Seus gritos retornaram e eu simplesmente fechei os olhos; apreciando-os. Era o seu querido órgão sexual contra a sua vida. Já diria o jigsaw, embora eu tenha dito que não falaria isso: Make your choice.

– Desculpe-me, é uma questão complicada. – Eu suspirei, como se realmente estivesse chateada por não poder contar meus motivos. – E você não tem muito tempo.

Demorou alguns minutos. Alguns minutos de choro, lágrimas e pedido de misericórdia. Minutos de suco de morango, prazer e medo. Minutos de gritos. Então, finalmente, o barulho seco das navalhas e os seus gritos aumentando ainda mais. Ao menos não me desapontou. Seu pênis, separado do corpo, caiu no chão. Em seguida, um dos vidros laterais e então seu corpo. Caiu de joelhos, sobre os cacos de vidro, fazendo mais parte de seu corpo sangrar. Olhou-me como se pedindo misericórdia, gemendo alto de dor, e eu sorri.

– Acha mesmo que eu o deixaria sair? – Perguntei, rindo. – Eu disse que gostaria de brincar de Jigsaw, querido, não que queria imitá-lo. Além do mais...

Retirei o punhal do bolso, repousando o copo de suco no chão, e me aproximei de você por trás. Você tentou evitar, mas foi em vão. Puxei-o pelo cabelo curto, fazendo seu rosto se inclinar para trás e aproximei os lábios de seu ouvido. Num movimento rápido, afundei o punhal em sua garganta. O ferimento o impediria de gritar, mas não era o suficiente para uma morte rápida.

– Eu odeio sons altos e seus gritos me irritam. – Murmurei, largando-o no chão, para morrer lentamente.

E em silêncio. Nada melhor que o silêncio.


ps: acho que os meninos acharão essa postagem mais tensa do que as meninas rs

ps²: ele não faz parte das vitimas normais (baseadas nos meus amigos), mas TODAS as vitimas são baseadas em pessoas reais #dik

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

lights: off. fear: on #3

Gostaria que ela tivesse sido a última – como foi a melhor, mas as coisas não são simples assim. Não me entendam mal. Ela sempre será a minha preferida, mas eu precisei continuar. Eu precisei sentir o aroma, o sabor e a loucura do medo novamente. Do medo alheio, antes que o meu próprio me dominasse. Não se trata de obsessão, de prazer ou de diversão. Trata-se de p r e c a u ç ã o. Nada mais (pelo menos depois dela).

O corredor estava escuro e a minha cadeira, mais uma vez, postada ao lado de uma mesinha de vidro com uma grande de taça de suco de morango. Morango e medo. Nada melhor. Sua consciência retornou exatamente quando e como eu havia previsto: Lentamente. A luz forte postada sobre a mesa cirúrgica em que você estava amarrada fez seus olhos sensíveis doerem, obrigando-lhe a fechá-los. Você tinha uma opção: Cega pela luz ou pela escuridão. A escolha não me importava nenhum pouco. Você não me importava – apenas o seu medo.

O desconforto nasceu dois segundos depois. O que está acontecendo? Perguntou-se, tentando inutilmente soltar as mãos acorrentadas à mesa gelada. Então o desconforto se converteu naquilo de mais admirável, mas primitivo e mais sincero em um ser humano: O medo. O medo do desconhecido, da morte, da incerteza. E enquanto eu me deliciava com ele, deixei a lâmina afundar em minha coxa pela terceira vez.

A ardência foi leve e o sangue escorreu pela pele branquíssima, enquanto eu erguia o punhal até a parede de pedra logo ao meu lado. Arranhei a parede, provocando um chiado baixo e – para você – ameaçador. Silêncio. Sua respiração ofegante. Um gole de suco para mim. Arranhei novamente. Protegida pelo escuro atrás de você, observei seu rosto girar de um lado para o outro, agitado. De onde vinha aquele barulho? Havia alguém a espionando? Você estremeceu só de pensar na possibilidade.

– QUEM ESTÁ AÍ? O QUE ESTÁ ACONTECENDO? APAREÇA!

Seu desejo é uma ordem, pequena garota. Peguei a mascara apoiada no chão e encaixei na cabeça, deixando meu precioso suco de morango para trás enquanto o som do meu salto a deixava angustiada. Alguém estava se aproximando. Eu estava. Ergui uma das mãos à lâmpada – a outra ainda segurando o punhal – e afastei um pouco, permitindo-lhe ver. Ver a mim. O grito de horror ficou preso em seus lábios quando seus olhos azuis esverdeados se arregalaram e você se encolheu. Pela primeira vez, eu era inteiramente o medo de alguém e aquela foi uma sensação boa.

– Diga-me, o que te faz sentir medo? – Perguntei.

A máscara brincou com você. O cabelo vermelho, desgrenhado, um tufo de cada lado de minha cabeça. O rosto de cera pálido e vazio possuía uma rachadura no que seria uma das bocehchas. O grande contorno vermelho nos lábios que formavam um sorriso deformado, o nariz gigante e redondo da mesma cor e os babados coloridos em torno do meu pescoço. Poderia ser cômico para qualquer um – mas não para você. A única coisa verdadeiramente minha eram os olhos, brilhando ameaçadores, insanos, por trás da máscara. O mesmo olhar que você sempre vira dos homens que se fantasiam de alegria.

– Medo de palhaços. – Comentei, descontraída, girando o punhal nos dedos à altura de seus olhos. – Eu te entendo nisso. Você vê a verdade por trás das máscaras, é por isso que os teme tanto. Agora, tente não se mover, okay? Não quero te machucar.

Mentira. Mas nunca me importei com mentiras. Apoiei a ponta da lâmina em sua coxa nua, subindo-a devagar pelo seu corpo, sem cortar. Eu não havia tocado em minha última vitima simplesmente porque eu não conseguiria machucá-la. Mas você? Um sorriso marcou meus lábios quando seu corpo estremeceu sob a lâmina que eu agora subia pela sua barriga, contornando os seios, quase sendo carinhosa. Então parei exatamente sobre o ombro. E afundei.

O sangue manchou a sua pele e a minha. Meu sorriso de palhaço estava há dois centímetros do seu rosto enquanto seu corpo arqueava o máximo possível e você gemia de dor. Eu ri. Alto. Deixei o punhal cravado em sua pele e estendi as mãos até seu rosto, encobrindo sua boca e seu nariz. Impedindo-a de respirar. Você se debateu, evitando meus olhos quase tão maníacos quanto a mascara que eu usava. Eu estava prestes a me perder.

– Medo de morrer asfixiada. Que bobinha. – Sorri. – Tantas maneiras piores de morrer.

Seu corpo se debateu por alguns segundos, você gemeu alto e tentou se livrar das minhas mãos, a dor lhe consumindo enquanto seu pulmão gritava por ar. Nada de animais desta vez – eu estava mudando o meu modo de agir? Um pouco. Detesto repetições. Eu poderia encontrar outra vitima para voltar a usar os animais. E o principal continuava ali: O escuro e o medo.

Afastei-me do corpo, a adrenalina momentânea começando a se converter em tédio novamente. Joguei a mascara para o lado – como eu odeio palhaços! – e sentei-me para terminar o meu suco, os braços ainda sujos de sangue. A diferença foi que, quando seu coração parou de bater sob as minhas mãos, eu não estava apenas causando o seu medo. Eu fui a personificação dos seus medos até o seu último segundo de vida. Essa nova descoberta me agradou.


ps: já que virou uma série, resolvi me aprofundar mais na personagem e não só nas vitimas. 'Ela' à quem a personagem se refere no começo do texto é a última vitima.

ps²: Acho que esse não ficou tão amedrontador rs Foi algo mais tortura fisica do que emocional, mas foi o que a vítima em questão me contou em off (e eu acrescentei algumas coisas, óbvio :p)

ps³: Espero que tenha ficado bom/aceitável como os outros dois ;-; comentem, quem não comentar será a próxima vitima (e se já foi, eu mato de novo! iariariar)

domingo, 26 de setembro de 2010

Dear... Me!

Cara... Eu,

Talvez você estranhe receber uma carta do passado, mas creio que a sua – e minha – imaginação lhe permita acreditar nestas palavras insanas. Por via das dúvidas, saiba que eu sei de coisas que ninguém além de você mesma poderia saber. Sei que dias chuvosos na praia são depressivos, porém inspiradores. Sei que você conversa – ou costumava conversar – com o seu pai em pensamentos, na esperança que ele ainda possa ouvi-la. Sei que tem mais dificuldade para demonstrar sentimentos do que gostaria. Sei que tem uma mania incontrolável de começar as coisas pelo final e que sua irmã acredita que você virará uma psicopata maluca. Estranho, não é? Sei porque sou você. Alguns anos mais jovem.

Não sei em que ano está vivendo enquanto lê – provavelmente pensando que está enlouquecendo e rindo sozinha – e também não sei como é a sua vida. O quanto as coisas mudaram. O que se perdeu desde o passado em que vivo e o que se manteve com você. Eu poderia lhe contar os meus sonhos e planos, mas estou certa de que já sabe. Já os compartilhou comigo. E se alguns ou todos eles falharam, não quero precisar fazê-la relembrar tudo. Sei que eu não gostaria de relembrar. Demoro a esquecer as coisas – ainda demoro no seu futuro?

Qual o objetivo desta carta, então? Guiá-la. Recuperá-la. Lembrá-la. Sei o quanto mudanças são necessárias, mas não quero me perder de mim no futuro. Não quero que as mudanças ou o mundo me mudem completamente. Algo precisa restar. Eu tenho dezessete anos agora. Ano de vestibular. Namoro e tenho os melhores e mais irritantes amigos do mundo. Você se lembra desta época? Espero que sim. Espero que ainda conviva com pessoas que convivo hoje. Não todas.

Por favor, não deixe meu instinto materno se perder. Eu gostaria de imaginá-la com filhos – a pequena Sophia! – mas já lhe disse que tentarei não contar como me imagino no futuro. Com ou sem eles, apenas não deixe o instinto se perder. Lembre-se do quanto o amor incondicional entre uma criança e uma mãe sempre a encantou. Lembre-se quantas vezes sonhou em ter uma pequena criaturinha dentro de você, e depois em seu colo, aninhando-se em seus braços em busca de proteção e carinho. Lembre-se.

Não sei com o que trabalha, mas, por favor, lembre-se sobre àquela velha história lawrich – você ainda sabe o que isso significa? – e lembre-se de quantos dias e noites você passou escrevendo, reescrevendo, imaginando e tendo idéias para a história daquelas duas doidas. Eu entenderei se você não quiser publicá-las, mesmo que tenha a oportunidade. Sei como odeia entregar as suas garotinhas à interpretação errônea de qualquer leitor, por maior que seja a sua vontade de ver mais pessoas as admirando como você admira. Apenas, por favor, lembre-se da importância que elas tiveram. Tente tirar algumas horas do seu tempo para revivê-las dentro de si, não as deixe morrer. Por favor.

Eu espero que você tenha se tornado mais calma do que sou. Menos desesperada e impulsiva. Espero que continue apreciando os pequenos detalhes de tudo. Espero que ainda goste de ir à praia no frio, que ainda goste de sentir o cheiro da chuva e que tomar banho em cachoeiras ainda restabeleça sua paz interior. Espero que tenha se tornado menos estressada, mas não tenho grandes esperanças sobre isso. Não perca sua vontade de lutar. Seu gosto por desafios. Não perca, aconteça o que acontecer, a sua vontade de viver. E a sua capacidade de sonhar e imaginar.

Por último, e provavelmente o real motivo desta carta esquisita, não deixe de amar. Lembre-se o quanto você acreditou no amor, o quanto você o defendeu. O quanto você sonhou. Lembre-se como costumava – espero que ainda costume – ser romântica. Incurável. Não importa quantas vezes você tenha chorado ou sofrido, não desista. Aprenda, cresça e mude o quanto for preciso. Mas, por favor, ame. Ame com a mesma intensidade que você já amou algum dia nos meus dias.

Espero que você tenha rido de cada item desta carta, perguntando-se como, no passado, conseguiu imaginar que alguma destas coisas importantes poderiam se perder de você. Um beijo,


....Eu.


ps: Eu acho que tirei a idéia de algum lugar, mas eu não tenho certeza e consequentemente não lembro de onde, então sorry rs

ps²: layout e banner novos feitos pela @marylazarini (do Colecionando Cores), o que vocês acharam? *-* Eu atorein e achei a minha cara *-* Obg Mah x3

ps³: Se alguém quiser dizer mais algo à eu [?] do futuro, sinta-se à vontade rs

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

lights: off. fear: on #2

A primeira coisa de que você tem consciência ao acordar é que está deitada. Tenta mover as mãos, mas percebe que estão amarradas. A água encobre seu corpo, com exceção do rosto. Frio. Tão frio que seu corpo inteiro dói. Onde eu estou? É seu primeiro pensamento, antes mesmo de abrir os olhos, e ao fazê-lo deseja que tivesse sido o último. Suas pernas estão encolhidas por falta de espaço, os braços rentes ao corpo e sua respiração embaça um pouco o vidro acima de você, de tão próximo que ele está. Você percebe que está presa numa espécie de caixa transparente apertada e imediatamente se sente claustrofobica. O ar lhe escapa, como se seus pulmões tivessem se reduzido ao tamanho de uma pequena uva, incapaz de satisfazer todo o seu corpo. Força os pulsos contra o que a prende, movendo as pernas e fazendo a água se agitar, numa tentativa inútil de escapar.

– Não vai adiantar.

Seu rosto gira, acompanhando minha voz quase entediada, mas não consegue ver nada além da escuridão. O escuro e o barulho da chuva forte atingindo as paredes daquele velho galpão abandonado. O lugar perfeito para alguém como eu – e como você. A trovoada forte ecoa demorada e, combinada com o flash de luz que escapa pelas janelas de vidro lá no alto, faz você estremecer violentamente e fechar os olhos com força. Ah, como é doce o cheiro do medo. Até mesmo o do seu medo.

– Admito que estou esperando há um bom tempo, mas parece que encontrei a noite perfeita. Agora, diga-me, o que te faz sentir medo?

Sorri. É claro que eu sabia. É claro que você não responderia. Tantas coisas óbvias. Óbvias como você. Eu fechei meus olhos, deixando-a ser envolvida e dominada pelo próprio medo. O frio. O ar fugindo. A tempestade rugindo sobre nossas cabeças. O escuro. A incerteza. Conclui a minha parte do ritual; deixando a lâmina escorregar e o sangue pintar minha coxa que já continha algumas outras cicatrizes idênticas. Não que eu goste da dor. Trata-se de redenção. Fugir i n f e r n o. Um corte por uma morte. Talvez não seja justo – é apenas o suficiente para me enganar.

– Tenho uma surpresa para você! – Eu sorri, alegre, enquanto me levantava. – É só algo para dar um toque especial. E, por favor, seja agradável! Eu me esforcei para pensar, porque ter medo de galinhas me soou um pouco bizarro demais. Sério.

Quando me aproximei e acendi as lanternas presas a pequenas mesinhas que envolviam o cubículo em que você estava presa, o grito de horror ficou preso em sua garganta. Treze galinhas empalhadas e parcialmente iluminadas pelas lanternas formavam um circulo ao seu redor. Os bicos abertos, as asas estendidas e os olhos presos à você pareciam agourentos. Assustadores. Você se debateu mais, a trovoada que ecoou me fez soltar uma gargalhada enquanto você estremecia com ainda mais horror.

– E agora o toque final... Talvez eu tenha exagerado, mas gosto de exageros. E aí vai o aviso de sempre: Elas não vão te atacar, se você não se mover.

Desespero. Frio. Horror. Nojo. Escuro. As dez pequenas cobras deslizaram pela água do meu pequeno aquário – que continha você. Algumas se enroscaram em seu tornozelo, subindo geladas e pegajosas por suas pernas, até as coxas. Outra deslizando por seu rosto, fazendo-a contrair os lábios e conter um soluço quando a trovoada cortou o céu e iluminou a escuridão, fazendo os olhos da galinha morta parecerem piscar divertidos para você.

– As regras são simples: Peça-me para acabar com tudo isso. Do contrário, você ficará aí. A tempestade talvez passe, mas não todo o resto. Não tenha pressa, ok? Eu estarei aqui. Sempre aqui.

A sentença final. Afastei-me, sumindo novamente na escuridão. Sentei à minha cadeira, tranqüila, esticando o braço para a grande taça de suco de morango. Morango e medo. O seu medo.

ps: meu alter ego assassino dominando meu alter ego romântico. por quanto tempo? rs e não gostei tanto desse, mas...