A alma se esconde num casulo. Um paraíso pacifico quase completamente impenetrável, onde cada parte de nosso ser se encontra. Os trechos de nossas histórias se erguem em paredes infinitas, como num gigante corredor de biblioteca que nunca termina. Impossível de ser completamente lido, completamente descoberto. Cada experiência que passamos entra para este corredor. Cada lágrima que escapa dos olhos e cada gargalhada que os lábios deixam soltar. Nele se encontram as descobertas, as decepções, as maiores felicidades e também as maiores tristezas. Ali também se escondem cada um de nossos pensamentos e desejos. Desde os mais superficiais até os mais secretos, aqueles que temos medo de repetir até para nós mesmos. O casulo é quente e aconchegante, sua luz é própria e não incomoda os olhos. É perfeito para cada um de nós e quase não aceita estranhos, lugar onde podemos nos esconder de todo o mundo quando mais precisamos. Lugar de solidão agradável, onde nossa alma se sente mais em casa, onde nos sentimos melhor. Nosso esconderijo secreto. Este esconderijo, pela alma ser tão difícil de ser tocada, não sofre com as mudanças exteriores. Nem com as pequenas alterações e nem com os grandes terremotos; há apenas paz lá dentro – e a essência do que somos. Nossos amigos e nossa família não chegam a ultrapassar suas barreiras de proteção, ficam protegidos num pequeno, especial, inesquecível e também aconchegante espaço. Essa medida de segurança do próprio casulo talvez indique o quão perigoso é abalar toda a paz e quietude interior que guardam a alma.
Um dia, alguém surge. Alguém passa desapercebido e se atira para a parte mais intima de você. Às vezes este alguém se atira por inteiro, às vezes atira apenas uma fagulha de si, um fio de cabelo que seja. Seja como for, você não está mais sozinho e alguém caminha pelo corredor daquela sua infinita biblioteca. Alguém se deita no seu casulo e aprecia sua luz própria enquanto ouve seus pensamentos e desejos mais íntimos.
Neste dia, sua alma é alcançada e seu mundo nunca mais será o mesmo.